O Homem Invisível é um remake ousado, que deu certo com a nova proposta de subverter a perspectiva da narrativa. O longa atual é inspirado na obra de 1933, dirigido por James Whale, e é considerado um grande clássico do cinema também por ser uma adaptação do romance homônimo escrito por H.G. Wells. 

No primeiro filme, temos o personagem de Jack Griffin, um cientista que por acidente acaba tropeçando numa porção que o faz ficar invisível, transformando-o fisicamente e psicologicamente. 

No recente “O Homem Invisível”, dirigido por Leigh Whannell, temos a protagonista Cecilia, interpretada pela excelente Elisabeth Moss, que é casada com um cientista bem sucedido. Logo nas primeiras cenas vemos que ela está pretendendo fugir da casa onde eles moram e logo de cara percebemos que o relacionamento deles não era saudável. 

No decorrer da história é perceptível que, de fato, o casamento dos dois era extremamente abusivo e Cecilia se encontra num esgotamento mental e físico, por isso resolveu fugir, mas a grande reviravolta acontece quando a protagonista vê que o marido conseguiu de alguma forma se tornar invisível e a persegui-la, a deixando completamente amedrontada. Percebe-se que houve uma subversão do tema do filme clássico, colocando assim, uma vertente mais atual e relevante para ser abordada, e que mesmo assim continua a ter o terror psicológico clássico. 

O roteiro consegue trazer aspectos que correspondem tanto para demonstrar o medo da personagem principal sobre o inimigo e também ao evidenciar como tudo isso que está acontecendo com ela está mexendo profundamente com seu psicológico. A mensagem colocada é bastante clara ao representar, metaforicamente, como efetivamente é o tratamento e suas nuances e graus de violência em um relacionamento abusivo. 

O longa consegue transmitir muito bem através da câmera subjetiva os efeitos que o casamento abusivo teve em Cecilia. O suspense é construído em torno dela ao constatar que, de fato, seu marido ainda a persegue e está tentando de todas formas deixá-la mais insana, longe de seus amigos e família. Ao colocar todos do seu círculo afetivo contra ela, a narrativa faz com que, em momentos estratégicos, o roteiro coloque o espectador questionando a sanidade da protagonista, se é verdadeiro o que está acontecendo com ela. 

Essa sacada de colocar o público se perguntando, mesmo que inconscientemente, a veracidade dos fatos, traça um paralelo ao que acontece na realidade, quando mulheres vítimas de abuso são constantemente desacreditadas.

Elisabeth Moss mais uma vez entrega uma atuação incrível, com uma carga dramática densa e uma responsabilidade enorme ao fazer um remake de um clássico sob um novo ponto de vista. Há momentos que ela transparece raiva, medo, loucura, tristeza, serenidade – algumas vezes ao mesmo tempo – tudo isso ao longo de um filme que tem um ritmo frenético e bastante foco na personagem dela – e ela não desaponta em nenhum momento.  

O Homem Invisível é um filme cheio de elementos que são apresentados numa proposta que corria muito risco de não dar certo, caso não fosse bem executada. Com boas atuações, um roteiro que traz questões atuais e pertinentes para a sociedade e uma direção que soube trabalhar suspense, terror psicológico e um pouco de ação, acabou sendo um grande acerto.

Um dos poucos problemas da obra é a breve aparição do Oliver Jackson-Cohen como Griffin. É claro que ele interpreta um personagem invisível, mas poderia haver um aprofundamento maior da personalidade dele e de como ele tratava a Cecilia de fato – seria um choque maior ver seu lado mais lunático explicitamente. Vale salientar também as cenas de ação, que são bem executadas e carregam uma violência explícita que não era esperada, mas funciona muito bem no terceiro ato do filme. O Homem invisível está com 91% de aprovação no Rotten Tomatoes e nota 7.2 no IMDb.

Fotos: Divulgação
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