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DESIGN DE SUPERFÍCIE

ODE À IDENTIDADE: O DESIGN DE SUPERFÍCIE COMO INTERFACE ENTRE INDIVÍDUO-LEITOR E SÍMBOLOS
A valorização cultural e identitária do território brasileiro pode e deve servir como motivo de pesquisa e exploração nos diferentes âmbitos do design, visto que há ainda uma predisposição em encontrar inspiração no externo. Por este motivo, este trabalho tem como objetivo desenvolver uma coleção de superfícies têxteis utilizando-se dos conceitos da semiótica, a partir da transposição de componentes emblemáticos presentes no Hino Oficial do Município de Araranguá-SC como forma de iconografia. Portanto, trata-se de uma pesquisa bibliográfica e exploratória de abordagem projetual, resultando em uma coleção de superfícies capaz de comunicar a poesia do município através de trocas simbólicas com o usuário – neste caso, a população araranguaense.

As aplicações aqui abordadas visam, como dito anteriormente, a utilização das superfícies no contexto da cidade a fim de causar trocas e interações entre sua população, bem como um redirecionamento do olhar interno e externo para a urbe e deste modo promover a valorização do seu território. Na sequência, de forma proposital, apresenta-se primeiramente a superfície desenvolvida e sua aplicação, o que possibilita ao leitor um primeiro impacto mediante tal material, para posteriormente tratar da explicação correspondente.
Superfície Anita Brasil e aplicação em têxtil para vestuário
A presença de uma figura feminina é evidente. Araranguá teve e tem muitos nomes de destaque que podem simbolizar esse aspecto, entretanto é Anita que aqui é representada. Anita nasceu no século XIX, era indígena e ainda criança foi separada de sua família em decorrência de um ataque de perseguição e assassinato cometido pelos bugreiros4 da época. Após a separação de seu povo e morte dos pais foi adotada por uma família araranguaense, a qual lhe deu este nome, cresceu, tornou-se professora e, em sua homenagem, uma rua da cidade foi batizada como “Anita Brasil” (HOBOLD, 2005), também título dessa superfície. As flores aqui estão sutilmente retratadas pois Anita é a rosa em destaque do vale sempre florido e o tom azul faz ligação ao manto de Nossa Senhora Mãe dos Homens, padroeira da cidade e também Rainha. Nesse contexto, de ruas e pavimentos públicos, é pertinente tratar das simbólicas e “largas avenidas” do município, já que são símbolos acolhidos pela população. Assim cria-se a relação entre os elementos da proposta, a Rua Anita Brasil, as largas avenidas e a Rainha que a tudo protege. Vale mencionar que as linhas geométricas em preto, a fim de garantir destaque, fazem exatamente o desenho das principais avenidas da cidade se vistas de uma visão aérea.
Superfície ARARA.guá e aplicação em têxtil para linha cama permitindo também a variação de cores
O “marco na história” aqui se dá pela utilização de elementos geográficos extraídos do Portal de Mapas do site IBGE com o intuito de legitimar o território assim como a menção ao ano de 1728, quando data sua aparição em contexto nacional. Posteriormente, a representação da grandeza pelo uso do amarelo e também losangos, ícone das cartas de um baralho correspondentes ao naipe de ouro. Para a questão turística, guiada pelo descanso, foi utilizado o coqueiro que, mesmo não sendo predominante na região, é tido como símbolo para locais litorâneos. A imagem de um coqueiro também sugere uma ilha que, geralmente, são imaginadas como ilhas desertas, logo, tranquilas e propícias ao descanso. Sol e mar se fazem presente assim como na estrofe e por isso julgou-se adequado que aparecessem aqui de forma caracterizada e não subjetiva, dado sua facilidade de reconhecimento e presença no decorrer do hino. Visto que este é o único verso em que há menção literal a Araranguá, buscou-se em suas origens a representação. Inicialmente as palavras “ARARA” e “GUÁ” podem ser vistas na proposta e, aparentemente não fazer sentido, ou ainda provocar estranhamento já que pode sinalizar também um erro de grafia do nome da cidade. Todavia, foi a partir dessas duas palavras que significam papagaio grande e vale, baixada - respectivamente - que popularizou-se a origem do nome do município (HOBOLD, 2005), daí também a imagem do pássaro. Entretanto o real significado do nome Araranguá é desconhecido, pois além dessa versão existem outras tantas como a do o topônimo “Iriringuá” (referência ao som estridente dos golfinhos) dos índios Carijós. Justificando essas possibilidades e origens, a presença também de outro animal, o golfinho. O uso do preto se deu em função de sobriedade e formalizar o que aqui foi proposto.
Superfície Trinca e aplicação em têxtil para calçados
O ponto de início da proposta foi a tríplice trabalho, cultura e progresso a qual foi interpretada como razão do bom desempenho e elevação da urbe. Deste modo, três círculos contínuos, um para cada aspecto, são dispostos e em união geram esta forma inter-relacionada apresentada no centro da imagem. Estes aspectos ainda surgem de maneira individual ao passo que a corda representa o trabalho, o esforço e os pescadores; as rosas a cultura e toda a devoção por Nossa Senhora e as engrenagens o progresso. Os ramos e grãos de arroz compõem e também reforçam a economia, paisagem e tradição. Utilizou-se do fundo em preto para fim de contraste e então destaque dos elementos em primeiro plano, estes que possuem tons diversos do amarelo na intenção de representar o dourado provocado pelo toque do sol.
Superfície Reverberar e aplicação em têxtil para acessórios
Reverberar, refletir ou espelhar, este foi o conceito responsável pela proposta acima a qual teve todos os seus elementos refletidos em si mesmo tal como o rio que reflete os encantos araranguaenses. A intenção desta foi retratar o romantismo presente na estrofe, portanto assume a presença da noite enluarada na parte superior e, logo abaixo dela, um elemento que se assemelha ao coração humano, porém este é feito de mar. De fato é o que sugere também o hino quando menciona o apreço que tem pela paisagem da cidade insinuando também que todo este cenário é composto e se resume pelo verde sereno. Daí o uso da cor como plano e parte dominante, da mesma forma que se apresenta no hino.
Superfície Meridião e aplicação em têxtil para estofados. Neste caso uma proposta para ser utilizada no transporte coletivo da cidade.
O centro aqui é onde tudo começa e para afirmar esse caráter de orientação, os elementos norteadores e indicativos ali se encontram: o farol, a bússola e o morro. A bússola aqui representa, além do rumo, também o Sol cujo também pode conferir orientação (Relógio do Sol, por exemplo), nela estão inscritas o mesmo que consta no brasão, porém em forma de círculo, em continuidade, sem fim ou começo. Sob a bússola/Sol, o areal ali deitado e nele as doces ondas do mar manso e ornado, um mar adornado sob a influência da aparência de um azulejo português que vem como referência subjetiva dos colonizadores. O morro aqui é triangular, por assim representar o ícone de sua silhueta, ele aparece duas vezes: no primeiro plano em cores com imagem real do Morro dos Conventos ilustrando o presente, e no segundo plano em preto e branco ilustrando o passado para assim fazer jus às suas origens e ser a ponte de ligação entre passado e futuro, partida e chegada, reforçando o ato de direcionar.
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Trabalho de conclusão de curso

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