Essa instalação é a uma síntese de um pedaço da minha vida, uma visita a um álbum de memórias, de intensas trocas e convívio com meu pai e a forma com que ele lida com as coisas d’água. Essas coisas, sem nome, parecem agora um método instrutivo que construíram em mim um filtro pra ler o mundo vida adiante. Onde o vento muda, numa vida submarina, água é rota inevitável.
          No começo da minha vida escolar, certa vez, meu pai foi chamado à escola para explicar algumas histórias, hoje as memórias d’água, que eu vinha contando aos colegas. Para a escola eram mentirinhas. Na ocasião, meu pai levou um álbum de fotografias e desfez as “mentiras”.
          O mar e seu desconhecido foram espaço fértil pra minha imaginação infantil. O absurdo tem lugar no mar, e aqui as ondas são como caminhos. Histórias de pescador: peixe voa, outros são maiores que eu, um lembra a lua, aquele ali uma estrela, esse de bigode parecido com o do meu pai, acredite ou não... tudo isso aconteceu.
          Agora, tomada uma nova distância como numa grande-angular, essas fotos constituem uma ficção desconhecida de afetos. Um veleiro contra o mar - espelho do céu -, ante o desconhecido, curioso. De norte, um manual de nós pra segurar as pontas. A espera do milagre dos peixes, a água e seu rugido, a água e seu silêncio, atencioso ao mar.

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