Nenhuma mulher é igual a outra. As fotos contestam o padrão de beleza vigente, procurei retratar mulheres reais e possíveis, vivendo suas vidas reais e possíveis. Cada uma se desdobrando para que as coisas fluíssem e acontecessem: que a calçada fosse limpa, que o portão fosse aberto, que o governo atual fosse retaliado, que uma cerveja pusesse fim à uma aula desagradável, que a timidez não fosse captada pela objetiva, que as rugas fossem escondidas e a idade incomodasse um pouco menos ao se reconhecer num retrato, que um carinho e a atenção tornassem a vida de um cachorro de rua menos dolorosa ou que um trabalho fosse finalizado e entregue até o próximo final de semana à fábrica. De acordo com Susan Sontag, “colecionar fotos é colecionar o mundo” (SONTAG, 1975). Nessa exposição pude colecionar fotos do cotidiano e de mulheres cotidianas, esses dois submundos banalizados, desprezados e ofendidos. (...)
As fotografias em preto e branco não são ocasionais. Como já disse, algumas pessoas consideram o cotidiano desprovido de cores, e mais algumas outras pessoas, talvez as mesmas, considerem a fotografia em preto e branco também sendo como desprovida de cores. Um erro, doloroso. A fotografia em preto e branco é a que respeita, de fato, as cores, a luminosidade, o contraste e as sombras do ambiente e objeto fotografado. Dezessete retratos femininos em preto e branco unem essas mulheres, igualam sua condição. Igualam não no sentido de aniquilar suas subjetividades ou diferenças, mas faz com que exista “nós”. Beauvoir escreveu que as mulheres não dizem "nós". Tento em Desdobráveis abriga-las em um “nós”. (2017)