Vinicius F Azevedo's profile

CIGARROS,ANSIEDADE&CIGARROS

CIGARROS,ANSIEDADE&CIGARROS.

06:06: O renascer do despertar de mais um dia comum na vida de Raul Riveira, que sem levantar ainda, estica a mão para checar a caixa de mensagens de seu telefone velho com um grande teclado, afinal ele adorava escrever, porém nos últimos tempos, seus destinatários estavam diminuindo de uma solitária forma. Entediado com as luzes amareladas da pequena tela, acende um cigarro esperando dar o tempo de seu despertador tocar!

06:15: O horário programado grita e é interrompido pela palma de sua mão. Fecha os olhos e segundos após decide levantar e procurar embaixo da cama seu chinelo de pano, um pouco menos desgastado que seus móveis.

06:18: Andando poucos passos para cozinha que dividia espaço com o sofá da sala, sentado na pequena mesa pra casais, come um pão com margarina, bebe o café esquentado do dia passado e logo acende um cigarro.

06:27: Coloca ração e ganha alguns minutos de troca de caricia com Cigana, sua gata de pelos escuros, que já não se dava mais bem com o tempo e suas sete vidas... Seu futuro já não estava na palma de sua pata e doenças da idade já faziam parte do cotidiano.

06:39: Sai correndo de casa com a mesma camisa de segunda a sábado, alguns minutos atrasados e esquecendo a blusa de algodão pra escuridão do sol. Acende um cigarro esperando o terceiro trem.

07:29: Desembarca no centro da cidade de granito, palavras e palavras por todo lado como se fosse a torre de babel. (pessoas, seres, homens, mulheres, criação, indivíduos, aaahhh)

07:37: Um homem com o queixo mais levantado o espera na frente de sua sala de trabalho, pronto para descontar em poucas palavras, a insatisfação com o seu presente, dando a justificativa do ato para sete ponteiros atrasados.

07:40: Respira, respira, respira e faz seus afazeres em troca de moedas ao final do mês. Ligações e conversas monótonas, quase que sem percepções pelo seu cerebelo pouco estimulável durante os encontros ao escritório bege no décimo terceiro andar.

10:10: Olha ao relógio, levanta da cadeira, pede um café e apaga um cigarro... De volta ao purgatório

12:35: Ufa, um descanso de letras e números e um pouco de garfos e facas num restaurante simples, sózinho e bom, pelo menos a sobremesa desta vez não era pudim de leite.

12:57: Na banca mais perto, repõe seu oxigênio dentro de uma nova carteira e um pouco cansado de um sol escaldante, volta com passos apressados para mais uma jornada de mesmice.

15:15: Um rápido intervalo e uma ligação pra familiares no qual não vê a anos. A garganta seca, se apagam mais alguns cigarros.

17:51: Já não é suportável suas tarefas diárias, sua cabeça não consegue mais pensar em nada, a não ser o descanso de seus ombros.

18:03: Finalmente, finalmente pode se desligar de linhas, fios e cabos e conectar-se a fones de ouvido, esperando o terceiro trem, que geralmente demorava alguns cigarros e a metade do álbum do Nirvana.

19:00: A chave do bolso esquerdo da mochila, abre portas para a fase mais estranha do seu dia, o anoitecer pela sua janela enferrujada. Um por do sol acinzentado em meio a tantas nuvens carregadas de dúvidas.

19:15: Incendeia logo dois cigarros, um atrás do outro, começando a se questionar sobre o filtro preto e branco em seus dias!

20:00: Cabeça fervendo a magma e a fuga para um banheiro com chuveiro elétrico e azulejos brancos com pontas amareladas era vital para a tempestade que se fazia dentro de um corpo d’agua.

20:04: Não demorou muito para se perder nos universos de seus pensamentos, afinal, pensamentos e paranóias ao banho se afloram como outono.

20:35: Com a mão enrugada ao sair do banho, enxuga seus olhos e bate de frente com um refletor de sua pele, e não se satisfaz com a ordenança de seus fios de cabelo, decide então raspa-los por si mesmo, um ato um tanto quanto compulsivo e adolescente, mas, julgamentos não fazem parte do meu papel na história.

20:49: O resfriamento do capitão não é o suficiente para acalmá-lo, procura em sua caixa de remédios, um sedativo momentâneo que fizesse com que seus problemas dolorosos fossem esquecidos por um instante. Toma uma dose e esquenta seu pulmão.

21:09: Decide pegar um ar e gastar substancias fora da atmosfera da sua casa! Vai até o pequeno quintal, que a grama já alcançava as canelas, resfria-se com alguns tragos e abre sua correspondência cheia de anúncios e cartas sem selo e sem a assinatura de canetas.

21:30: Papéis em cima da mesa da cozinha, água pra esfriar a cabeça, um cigarro, água pra esquentar o café, dúvidas e muitas dúvidas.

21:45: Palavras e números o apunhalam de todos os lados da folha de papel e começam a espirrar fumaça de suas válvulas.

22:02: Deitado no sofá da minúscula sala de estar, fuma seu último cigarro e só se depara com o final do maço quando encosta seu último filtro no cinzeiro... Dali pra frente sua ansiedade e pensamentos ruins começaram a rondá-los e sua insegurança com o futuro já começa a assombrá-lo.

22:22: Já não aguentava mais sem ter algo pra dividir o fardo da angústia, resolver triplicar a dose de sedativos... O efeito ainda não estava correndo suas veias, sua cabeça se remoía de vontade de gritar aos cantos.

22:59: Dores e calafrios pelo corpo todo, criavam uma completa difusão de cores, sabores e sentimentos por suas ligações nervosas, já não tinha mais o controle do robô que morava em seu corpo! Lhe faltava nicotina, então foi atrás.

23:07: Não demorou muito e encontrou junto com um sentimento antigo e esquecido nas últimas insônias, um cigarro de canela (apenas um) achado em cima de uma escrivaninha em um quarto atualmente pouco frequentado, chamado de parnaso no passado. A chama durou até ser apagada por pequenas gotas que desciam de seus olhos, afinal ele odiava cigarros de canela e não se importaria de não o fumar até o final.

23:23: Desesperado com o cotidiano e a vida monótona em que estava sentenciado a ter até fechar seus olhos, tomou direto o frasco inteiro de sedativos, fechou as janelas enferrujadas e se soltou ao meio de cobertas e travesseiros onde viajou para um mundo aonde só quem queria estar por perto estaria lá!

00:01: Um silêncio enorme percorria seus olhos e uma escuridão profunda soava em seus ouvidos.

02:02: Sombras e corvos o traziam tanto conforto, que o mundo dos sonhos mais parecia e era mais atrativo que o mundo dos homens.

03:03: Foi então que uma voz sútil e meio roca (que até soava bem aos seus receptores) rompeu a barreira do som e quebrou o silêncio harmonioso.

– Amor, do que vale a pena morrer e ter que respirar? Já não suporto mais o cinza de suas paredes... Anseio por você todos os dias em uma casa arejada com um pé de jabuticaba no meio do quintal. Se estiver cansado de tantas dúvidas e quiser viver com a única certeza que tu podes lembrar, grite por mim, que todas as suas feridas serão curadas e não apenas sedadas!

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06:06: O renascer do despertar de mais um dia comum na vida de Raul Riveira, que sem levantar ainda, estica a mão para checar a caixa de mensagens de seu telefone velho com um grande teclado, afinal ele adorava escrever, porém nos últimos tempos, seus destinatários estavam diminuindo de uma solitária forma. Entediado com as luzes amareladas da pequena tela, acende um cigarro esperando dar o tempo de seu despertador tocar!

Uma carta de Raul Riveira para o fundo da gaveta.
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