Chico, o cientista com música na ponta dos dedos
Uma produção multimédia realizada no âmbito do Mestrado em Comunicação de Ciência. O original está publicado aqui.
É um choque de sentimentos: por um lado uma tranquilidade absoluta. Sente-se uma vontade de fechar os olhos e, esvaziando a mente, deixar-se levar pela melodia. Por outro, a desordem e a vontade de fugir, uma inquietude que não desvanece. Resta o arrepio que percorre todo o corpo e os acordes continuam…
A culpa foi do padrinho que começa cedo a registar culpas no futuro do Chico. Queria ser músico. Comprou uma guitarra mas nunca a usou. Ofereceu-lha, tinha o Chico 10 anos. “Fica tu com ela. Acho que a vais usar mais do que eu”, disse-lhe na altura. Chico nem pensou no assunto. “Com dez anos não pensas em nada que não sejam desenhos animados, comer e jogar à bola”, brinca. Aceitou-a de bom grado.
Sobre o tio conta ainda: “Ele ia namorar com a minha tia e eu sentava-me à beira dele a tentar que ele me ensinasse alguma coisa na guitarra”. O vício pegou. E de que maneira. Chico procurava evoluir cada vez mais. E conseguiu. Hoje é guitarrista dos Imploding Stars.

É apenas com o instrumental que nos tentam colapsar, com uma música que nos obriga a parar. Em especial neste último álbum, A Montain & a Tree, falam-nos “do Homem, dos sentimentos humanos e da natureza e como é que esta relação se estabelece”.

Este Chico guitarrista, na verdade, esconde algo mais. Uma procura e uma vontade maiores do que própria música.
Nesta inspiração, Chico encontrou também a sua vocação. “Há uma relação muito estreita entre a minha música e aquilo que faço profissionalmente”. Nem sempre foi claro por onde passava o seu caminho. Pintava um futuro em que a natureza não era contemplada.

O padrinho, engenheiro electrónico, regista mais uma vez a sua culpa. “Ele era um ídolo para mim. Eu queria ser o que ele era”, justifica-se. Mas o padrinho tinha outros planos para o jovem Chico. E a inevitável conversa aconteceu.
Ingressou em Biologia e desde cedo soube que queria trabalhar na área do ambiente. “A relação entre a biodiversidade, os ecossistemas, perceber como funciona o mundo natural sempre foi uma coisa que me desafiou”.

Contacta com a ecologia pela primeira vez no terceiro ano da licenciatura. Mas não ficaram dúvidas. “É isto que eu quero fazer”, conta com um enorme sorriso no rosto. Nesse mesmo momento pediu para trabalhar de forma voluntária no laboratório. E assim foi. Entre gargalhadas partilha: “A primeira coisa que eu fiz no laboratório de ecologia, foi colar sacos de rede com cola quente, ou seja trabalhos manuais”. Na altura nem sabia muito bem o que estava a fazer mas, ainda assim, a paixão cresceu.

É o mestrado, onde trabalhou com espécies invasoras, sistemas aquáticos e nas funções que desempenha a biodiversidade, que o conduz até onde está hoje. “Vir para o Laboratório da Paisagem foi uma surpresa para mim, uma boa surpresa”, confidencia. A experiência está a ser muito positiva apesar de o contexto académico ser completamente diferente do municipal.
Hoje, já não pinta só o seu futuro. Ajuda a pintar o da cidade de Guimarães. “É engraçado como é que de repente a minha vida passa de um gajo que queria ser engenheiro electrónico, queria olhar para as estrelas e que acaba a fazer ecologia que é aquilo que eu realmente gosto de fazer.”

Se não fosse ecólogo, “era músico, certamente. A tempo inteiro”, diz com entusiasmo. Mas se isso não fosse possível, “gostava de trabalhar no gabinete do senhor Stephen Hawking a tentar perceber como é que o universo funciona”.

O Chico, que antes de guitarrista é ecólogo, nunca vai perder o ar que o rock lhe dá. No entanto, quem por ele se cruza sabe bem que por detrás dos seus óculos escuros há um brilho de felicidade. A dele, porque vive por aquilo em que mais acredita. E a nossa, porque enquanto ele tocar, haverá sempre uma música para nos lembrar que há um mundo ao qual não podemos ficar indiferentes.
Ao Chico: o guitarrista e aos Imploding Stars devemos um enorme obrigado, pelo desafio, pela música e pela história.

Os autores, Daniel Ribeiro e Sara Martins.
Multimedia page
Published:

Multimedia page

Published: