É assim que Rubem Braga descreve, na crônica “Mar”, seu primeiro encontro com o oceano.
A Casa Porto das Artes Plásticas é berço da Nona Bienal do Mar: Diálogos Entre Idas e Vindas, que flui pelo Centro de Vitória e, assim como a própria estrutura geográfica da região, se debruça sobre o canal, o cais do porto, deságua no oceano.
Vitória possui uma relação única com o mar. Aqui, a região e atividade portuária integram-se ao cotidiano e paisagem urbana. Vivemos imersos em um diálogo intenso entre natureza e cidade, mar e terra firme, maré alta e baixa, superfície e profundeza, água que vai e vem, navios que atravessam o mundo, atracam aqui e depois retornam. E nessas idas e vindas, não vem e vão apenas os barcos, as marés e os dias, mas também as pessoas.
A marca da bienal também expressa essa relação. O texto “bienal do mar”, disposto em bloco e com um tipo anguloso, transmite o espaço urbano, a estabilidade, a terra firme. “Nona” está escrito de forma fluida, sugerindo as ondas do mar, o caráter instável e mutável. Os nomes se cruzam, estabelecendo essa relação e gerando o questionamento: é a cidade que atravessa o mar ou o mar que atravessa a cidade?
Na rotina urbana muitas vezes não conseguimos ver o extraordinário no ordinário. A Nona Bienal do Mar surge nesse contexto para, por meio da arte, resgatar essa percepção. Provocar e permitir ao público a redescoberta e reapropriação desses espaços e de suas relações.
Brunella Brunello