Gosto de coisificar pessoas e humanizar as coisas. 

Livremente inspirada na obra do poeta Manoel de Barros e com direção de Duda Maia, o espetáculo infantojuvenil ganha corpo com as descobertas e inventuras de dois bocós (nome dado em alusão a um de seus poemas). Como os personagens, as letras brincam de ser um monte de coisas e experimentam os sons das palavras, despertando novos sentidos. Catando metáforas pelo chão, gostam de ouvir o silêncio da chuva e brincar de pensar em nada. Entre brincadeiras e reflexões típicas da infância, percorrem temas presentes na obra do poeta, como a natureza, o nada, o escuro, o silêncio e as inutilidades.

A letra é objeto rasteiro, não identificado, que se encharca e vira rio. Assim cresce a identidade visual de Manoel, com a expansão da letra "o" carregada de significados, que de figura vira fundo, explorando sua ambiguidade formal. Às vezes falo em chuva e já me nasce um rio. Às vezes eu rio e já me chove.



A gente fica parado até a inércia ganhar cor. 


Bocó é sempre alguém com lacuna de adulto. Bocó é sempre alguém acrescentado de criança. A nossa função é ser inútil. Por isso, estamos aqui mais uma vez para apresentar absolutamente nada para vocês.

Bocó. Numa mesma palavra, uma mesma letra. Mas com diferentes corporalidades – ô fechado se encolhe, ó aberto se espreguiça. Se as letras fossem pessoas, como se comportariam? Seriam, sem certeza, descomportadas. 

Brincando de encontrar novas formas com o corpo, e se nos corpos dessas nossas letras encontrássemos os nossos sentidos? Um alívio. Aquele suspiro que derrete. Um delírio. Aquele looping que dá volta. Um susto. Aquele tempo que suspende. Uma dúvida. Aquela coisa que não se sabe se é.


Um projeto gráfico baseado nas irracionalidades criativas e nas suas inconsequências. Levando o infantil à sério, o processo criativo abusou de diferentes materialidades: desenho com canetinha, dobradura em papel vegetal e a descoberta de novas formas com a sobreposição que surge em cada fase incipiente de um origami de flor. E por que flor? Presente no espetáculo, a flor é objeto de cena, parte do figurino dos personagens. A cada dobra feita para a construção do origami, as novas formas eram escaneadas e tratadas, compondo os elementos gráficos da identidade.

Aqui não há compromisso com a verdade, pois o compromisso é algo demasiadamente chato para algo tão esplendoroso quanto a verdade. 



Já tomei remédio para evitar metáforas.​​​​​​​​​​​​​​
Manoel
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