Quantas humilhações você coleciona nessa vida de adulto? Várias né?
Esses dias lembrei da minha primeira entrevista de emprego aqui em SP, quando eu saí de Bauru e vim a procura de me aperfeiçoar como barista (coitada hahahaha).
Foi em 2018, em Janeiro. Chovia pra caramba, de manhã, de tarde, de noite.
Além de um trabalho, eu precisava de um apartamento (pra dividir com meu amigo Kaiky).
Rodei São Paulo. Pra cima e pra baixo. Mochila nas costas, currículo, sem guarda-chuva.
Cheguei em uma das entrevistas. No trajeto, tomei chuva e pra melhorar, estava com um tênis furado e encharcado.
Eu não tinha outro tênis ali comigo.
A escassez faz a gente pensar mil vezes antes de fazer uma compra. Acontece comigo, acontece com você também que eu sei.
Sentei e comecei a conversar com a entrevistadora. Estava suada, com roupa molhada e o tênis pingando por baixo da mesa. Vergonha total.
Praticamente implorei pra ela: moça me dá um emprego, eu sou trabalhadora.
(saí da entrevista e entrei em uma loja na rua Augusta e comprei um tênis novo. Me senti humilhada por ter passado por essa situação).
Mas voltando.
Quem em sã consciência daria um emprego pra essa doida que vem lá de longe, sem casa, com roupa molhada, sem guarda-chuva?
Ninguém. Praticamente impossível. Aluguei o apartamento e voltei sem emprego para Bauru.
Semanas depois recebi uma ligação: e aí, quer trabalhar com a gente? Você vem mesmo?
Eu fui. Com meus dois gatos, com ajuda de amigos, da família (e algumas viagens de carro pra levar tudo).
Teve dias que não tinha dinheiro pra pegar ônibus, nem pra ir ao mercado.
Demorei mais de um ano para me estabelecer financeiramente trabalhando como barista e poder, finalmente, entrar em um restaurante e poder pagar para consumir ali. Não cabia no orçamento.
Trabalhar como barista, trabalhar em restaurante está longe de ser lindo. Tem um lado, tem uma história que nem todo mundo vê.
Tudo aqui nessa rede social parece mais bonito, mas por trás disso, tem gente, tem uma vida, tem uma trajetória e muito, mas muito trabalho.
