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Chutando Preconceito


    Falar que o futebol feminino já foi considerado um crime pode até parecer brincadeira, porém não é. Foi com a justificativa de que mulheres não deveriam jogar esportes “incompatíveis com a sua natureza”, que o artigo 54 do decreto-lei 3199 foi publicado em 14 de abril de 1941 e formulado pelo Conselho Nacional de Desportes.

    Tudo começou após o presidente Getúlio Vargas receber uma carta de José Fuzeira, um escritor de livros sobre moralidade das mulheres, tecendo diversas críticas ao futebol feminino sem qualquer embasamento científico, dentre elas que a prática destes esportes “violentos” afetava o psicológico da mulher e prejudicando sua fertilidade. Surpreendentemente o governo levaria esta carta a sério, proibindo não somente o futebol, mas também qualquer esporte considerado violento.

    Entretanto, ignorando completamente a lei vigente da época, as mulheres, sobretudo pretas, pobres ou suburbanas, passaram a promover jogos clandestinos por todo o território brasileiro durante quatro décadas, jogando em campos de areia e se escondendo das autoridades. 

    Somente em 1983 a modalidade foi regulamentada no país, mesmo que a lei tenha sido abolida em 1979. Esse atraso de 40 anos teve impactos que são sentidos até hoje pelo público feminino, seja no salário, reconhecimento ou no investimento de clubes, a prática desta modalidade pelas mulheres ainda é muito desvalorizada e sofre preconceito sobretudo por ainda ser considerado um esporte para homens.
 
    Não é para menos que a trajetória do futebol feminino é considerada uma história de resistência e libertação. Um símbolo da força e persistência de tantas mulheres que após muita luta conseguiram fazer do futebol um esporte para todas nós.
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