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E SER MULHER NO CENÁRIO AUTOMOTIVO?

E SER MULHER DENTRO DO CENÁRIO AUTOMOTIVO BRASILEIRO? 

Thiago L Pereira 

          Campanhas, criação de ongs, manifestações... A luta das mulheres por uma sociedade mais igualitária não é novidade para ninguém e já vem atravessando séculos. É fato que o cenário não é o mesmo de tempos atrás; as mulheres já conseguiram conquistar diversos direitos, como ingressar no mercado de trabalho e ter sua própria independência, mas isso não significa que dentro desse âmbito não sofram com os preconceitos e dificuldades de viverem em uma sociedade enraizada em conceitos patriarcais e machistas. 

          Dados do Ministério do Trabalho mostram que a participação feminina no mercado de trabalho formal atingiu o patamar de 44% em todo o território nacional em 2018; mesmo assim, apenas 3 em cada 100 CEOs no país são mulheres. Dados como esse comprovam que, mesmo depois de muitos anos de luta para que se tornasse um ambiente mais justo em termos de oportunidade e valorização do trabalho, o mercado continua sendo um meio muito machista e sexista. Dentro desse contexto, algumas áreas estão mais avançadas e outras menos, no que diz respeito aos tópicos apresentados, e uma das que estão menos avançadas é a automotiva, aquela que envolve tudo aquilo relacionado a automóveis e afins. Piadas que envolvem a questão de gênero ainda são muito recorrentes e a ideia de que "mulher não entende de carro" também. 

          A indústria automotiva conta com 83% dos cargos em empresas de cadeia produtiva ocupados por homens, informam dados da pesquisa Presença Feminina no Setor Automotivo, realizada pela Automotive Business em parceria com a MHD Consultoria no segundo semestre de 2017. Um fato que, além de problemático simplesmente pela presença do preconceito relacionado ao gênero, é prejudicial para as próprias empresas, porque como é óbvio, as mulheres fazem parte do mercado consumidor e, por isso, é imprescindível que essas empresas estejam alinhadas às expectativas e filosofias desse público, e ninguém melhor do que uma mulher para saber o que outra mulher espera de um produto. Em casos como esse, a representatividade ajuda a superar não somente barreiras sociais, mas também comerciais, gerando maior rentabilidade. 

          Infelizmente e obviamente, o jornalismo automotivo, assim como o segmento em que se apoia para produzir seus conteúdos, também ainda é um meio muito opressor, mas com muito esforço e uma qualidade de trabalho impecável para provar o que não precisaria ser provado, alguns nomes vêm ajudando a transformar essa realidade, mostrando para o público que mulher entende sim de carro, que elas devem estar inseridas nesse cenário e que o conteúdo produzido por elas faz frente a qualquer outro produzido por qualquer um. 

          Um desses nomes é Michelle de Jesus. Com experiência de 15 anos na oficina mecânica do pai, ela também foi piloto automobilístico por mais de 10, apresentadora do programa Oficina Motor, veiculado no canal +Globosat e colunista de revistas especializadas em automóveis. Hoje, apresentadora do seu próprio canal de Youtube (que já conta com mais de 130 mil inscritos) e Head de Marketing de uma das maiores empresas de tecnologia do Brasil, ela ainda consegue ajustar sua rotina à um MBA executivo no Insper (Instituto de Ensino e Pesquisa). Multifacetada como se vê, Michelle conta pra gente a seguir como foram as dificuldades enfrentou ao longo da carreira, suas inspirações e até dá algumas dicas, confira: 

P: pergunta / R: resposta 

P: Como surgiu sua paixão pelo automobilismo? Você teve alguma inspiração na área?
 
R: Não tive nenhuma inspiração dentro do meio automobilístico, por incrível que pareça. A realidade é que eu sempre estive muito inserida no ambiente das oficinas, meu pai tinha uma oficina de undercar e eu trabalhei com ele durante muito tempo; talvez essa paixão pelos motores tenha surgido até antes da paixão pelas corridas, mas tudo foi seguindo assim naturalmente, uma coisa levou à outra. 


P: Você acredita que, ao longo da sua carreira como piloto, sofreu muito preconceito por estar inserida nesse contexto ainda infelizmente tão machista? 

R: Com certeza sim, sofri muito preconceito, mas meu perfil nunca foi de ficar calada ou abaixar a cabeça e me fazer de “coitada”. Meu perfil era mais de enfrentar as dificuldades e não dar voz ao preconceito, trabalhar e mostrar o meu talento, porque assim o respeito vem. Quando eu corria e tinha uma mudança de categoria, por exemplo, eu chegava e demorava muito pra conquistar o respeito dos caras, mas conquistava, porque eles viam que eu era competente naquilo, que eu não estava ali por acaso. Esse era o meu modo de exigir respeito deles. 


P: Sabemos que você já apresentou o Programa Oficina Motor, veiculado no canal +Globosat, e hoje apresenta o seu próprio canal do YouTube. Como é sua relação com o jornalismo automotivo? O que mais te cativa nessa área? 

R: Na verdade a relação com o jornalismo foi mais uma oportunidade do que algo que me cativou. Eu corria e recebi o convite, pensei: por que não? Eu sempre tive uma necessidade muito grande de empreender e por isso sempre agarro todas as oportunidades, faço de cada uma delas as melhores do mundo. Assim como o programa, o canal também surgiu do nada, foi uma ideia que combinou com o estilo de vida que eu levo, é fácil de fazer e eu gosto. Claro que existem coisas que eu amo dentro dessa profissão, como por exemplo viajar por aí dirigindo e testando os mais variados tipos de carro, e unir essa experiência com a de passar informações e compartilhar sensações com vocês (quem consome esse tipo de conteúdo) acho que é o que mais me cativa nessa área. 


P: Agora, saindo um pouco do mundo dos carros, hoje você também é head de marketing de uma das maiores empresas de tecnologia do Brasil; da onde veio a vontade de fazer essa mudança de área? 

R: De novo, o que me move são as oportunidades. Eu não era piloto, mas tive a oportunidade de ser e fiz acontecer, assim como também não era apresentadora, não tenho formação de jornalista, mas eu estava lá e era a oportunidade que tinha, então agarrei e me tornei uma comunicadora, uma influenciadora. Como head de marketing não foi diferente, foi uma oportunidade que me apareceu, e estou fazendo dela a melhor do mundo, estudando, buscando ser competente naquilo que me proponho a fazer, e acho que é o caminho natural das coisas, buscar novos ambientes, novas coisas pra fazer, eu precisava disso. 


P: Você tem alguma dica para as mulheres enfrentarem o machismo que é recorrente em todas essas áreas pelas quais você transitou? 

R: Como eu já disse, minha dica é não dar voz a quem fala esse tipo de coisa, enfrentar a situação de frente e saber que, a melhor resposta é provar que a pessoa está errada, que você tem talento, tem capacidade. 


P: Ainda nesse sentido, na sua visão, existe alguma coisa que estudantes de jornalismo podem fazer para ajudar a tornar esses cenários mais justos? 

R: Pode ficar até repetitivo, mas vou falar da questão de agarrar as oportunidades de novo. Acho que justiça tem a ver com isso, você agarrar as mínimas oportunidades que aparecem pra você e torná-las coisas grandiosas; pode ser na escala da sua rua, do seu bairro, sua cidade, não importa, quando você faz aquela coisa grandiosa, valor será agregado ao seu trabalho, e assim mais e mais oportunidades aparecerão. 


          Além de Michelle, Giu Brandão, apresentadora do canal MundoSobreRodas, no YouTube, e Silvia Garcia, apresentadora do canal da Webmotors, que se encontra também no YouTube e representa uma gigante no meio de compra e venda de automóveis e motocicletas, também produzem um conteúdo de altíssima qualidade. É claro que muitas outras também o fazem, mas nesse texto seria impossível citar todas, elas são muitas e cada vez mais, o que é ótimo; mas para quem gosta ou precisa de dicas sobre o assunto, o conteúdo dessas mulheres é um prato cheio, e consumi-lo é um favor a si mesmo. 


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