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Revista Site BN (redação)

PADRÃO vs RELAÇÃO: as escolhas afetivas têm a ver com os corpos?
 
Acho que o mundo vem dando umas mudadas ultimamente. Percebi que estamos falando mais de bem estar, empoderamento, amor próprio e até do não julgamento. Mas será que tudo isso na prática vem funcionando?
Olá, tudo bem? Me chamo Edu Gonçalves, tenho 28 anos, sou empresário e blogueiro, e venho aqui mostrar um pouco do meu dia dia como uma pessoa gay e gorda. E gente, tudo o que eu disser aqui, foi por experiência própria vivida. Porém para explicar tudo direitinho, preciso voltar ao passado…
 
reprodução/arquivo pessoal Eduardo Gonçalves
 
Sempre fui uma criança obesa. Cresci em uma família de interior que sempre levou a “fartura” e o “comer bem” a risca. Porém sabemos que ambas as práticas não são apenas voltadas a quantidade, mas para meu familiares “quanto mais se comia, melhor se vivia”; E foi aí que me tornei uma criança, depois um adolescente e logo mais um adulto acima do peso, chegando em 2017 a pesar cerca de 147 Kilos.
Isso me afetava demais, tanto na saúde como principalmente bem-estar. Ao mesmo tempo que havia uma pressão externa dizendo para me amar como eu era, havia uma pressão maior dizendo que eu precisava mudar, para conseguir ao menos viver mais. E foi aí que eu decidi perder peso, pois por mais que eu me amasse, eu estava com pressão alta, problemas circulatórios, problemas repositórios, e tudo com meus 24 anos.
Fora toda essa questão de estar bem consigo mesmo, minha autoestima estava sempre para baixo, pois usava todo esse afeto por mim mesmo, dizendo para me aceitar como eu era, de arma contra o preconceito de muitos que sempre recebia ao sair, ao paquerar ou ao querer namorar.
 
Você é gordinho né? Não curto.
Pra estar comigo tem que malhar um pouquinho cara.
Cara, to meu liso. Então não come tudo no encontro tá? Não vou poder pedir de novo.
Será que a cama do motel vai aguentar?
Isso é só a ponta do iceberg. Inclusive escrevi sobre esse assunto e dei mais exemplos do que vivenciei lá no no meu Blog: EXISTE GORDOFOBIA NO MUNDO LGBTQIA+ ?
 
Quando me descobri gay e me aceitei, tinha que passar pelo tanto de aprovação e reprovação da sociedade e ainda de pessoas do meio LGBTQIA+. Pois ao invés de ser acolhido por muitos, apenas fui apontado e julgado por vários…
 
Entrava nos grupos de paqueras do WhatsApp, dava bom dia com minha foto para até me apresentar e poucos ou nenhum respondiam. Mas o cara musculoso, sorridente, de olhos claros e branco, era recebido como um Deus;
Saia para a boate com vários amigos magros e de certo modo padrões, TODOS ficavam, menos eu. Para disfarçar, dizia que eu só estava ali para curtir a música, mas por dentro, queria morrer;
Andava na rua e ninguém olhava para mim, apenas para o cara mais musculoso, mais alto, mais sarado.
 
Percebam o quanto a questão de aspectos físicos e padrões sociais se tornam relevantes para as pessoas, que mesmo dizendo se amarem, esperam um julgamento positivo da sociedade, pelo jeito que são. E isto está errado.
Emagreci gente! Hoje, até a presente data, peso cerca de 80 kilos. Aí que as coisas “mudaram”: match em cima de match nos aplicativos, pessoas na rua me dando número de contato, homens e até mulheres querendo marcar algo comigo ao sair para as boates… Que coisa né? Mas sabe o que eu acho disso tudo? PERCA DE TEMPO.
 
Mudei por saúde, assim me condicionando a fazer parte de aspectos físicos “apontados” pela sociedade como os mais interessantes e vejo o quanto banal você se torna por ser mais um. Antes eu era gordo e ninguém queria nada; hoje em dia por mais que apareçam vários, muitos ainda continuam não querendo nada. Aí te pergunto… 
 
As pessoas tem problemas com as outras e com elas mesmo?
Será que as pessoas se matam tanto para si mesmo ou para conseguirem o SELO de homem/mulher mais gato(a) na balada?
Sãos os gordos que precisam se amar mais ou os várias pessoas padrões que usam seu corpo para julgar, esquecendo de saber se tá bem consigo mesmo?
 
Pensa consigo mesmo e não precisa responder, apenas mude o que você realmente tenha de mudar, mas para si e não pelo o que te dizem que esteja errado, a não ser que seja algo para seu bem, mas aí só depende de você.
 
 
Texto para a Revista Site BN. 
Publicado: 26/03/2020
 
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Matéria para a Revista Site BN falando sobre liberdade de corpos e relações afetivas.

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