Vol. 1

Pêlos, no geral, é um tópico sensível para toda a gente, pelas mais diversas razões. Estéticas, saúde, acesso a produtos, privilégio, culturais, etc.

Fala-se na liberdade de escolha: os meus pêlos, a minha escolha. O problema aqui põe-se que a minha escolha é obliterada pela sociedade, pelos preconceitos nela enraizados. Ter pêlos é das coisas mais naturais em animais (que é o que nós somos, caso seja novidade). Existem por alguma razão. "Ah e tal não são higiénicos" o caraças é que não são higiénicos, se não fossem higiénicos TODOS OS SERES HUMANOS os removeriam e não apenas uma parte destes. Na realidade os pêlos são um excelente mecanismo de defesa do nosso corpo.

Temos ainda que perceber que o capitalismo é a base do porquê das mulheres e pessoas que foram educadas/se apresentam na sociedade como mulheres fazerem a depilação, hoje em dia. Fazer ou não a depilação é algo que flutua na história e nas culturas ao longo dos séculos. Não é errado fazer a depilação como também não é errado não a fazer. É, de facto, a escolha de cada um. Mas vivemos num mundo tão centrado em padrões de beleza, egos, falta de empatia, machismo, misoginia, constante controlo sobre o corpo de outrem para prazer próprio que alguém passear-se com pêlos nas axilas ou noutros sítios é visto como algo nojento, sujo, nada atraente, etc. Eu não sei o que é que o confinamento vos fez mas a mim mostrou-me que a forma como o meu corpo se apresenta na sociedade não tem absolutamente nada a ver com mais ninguém que não eu. Se não gostam, problema vosso não meu, ora porra!

Há, no entanto, todo um processo interno para quebrar preconceitos e lidar com julgamentos que tem que ser feito.
Se eu posso fazer o que quero do meu corpo xs outrxs também podem.
Não vou forçar nada nxs outrxs.
Não vou julgar as vossas escolhas relativamente ao vosso corpo por mais díspares que possam ser das minhas.
O meu ponto de vista não é melhor que o vosso e vice-versa.
Portanto se se querem depilar, força.
Se não querem força também, pá.
Vol. 2

No vol. 1 falei-vos de pêlos e tudo o que gira em volta daquilo que a sociedade assume aceitável relativamente a esse tópico tão estranho que, até em anúncios que promovem produtos de depilação, as pessoas que estão a demonstrar o produto nem sequer pêlos têm, mas adiante. Se há algo que a sociedade continua a ter dificuldade em aceitar são sexualidades e identidades de género que não encaixam nos seus padrões. Estas fotos estão intimamente ligadas ao vol. 1, não são de todo um tema à parte, na realidade todos estes "temas" são apenas um - a definição de ser humano para cada um de nós.

"Ensinam-nos preconceitos desde crianças e a realidade torna-se mais fria quando percebemos que temos esses preconceitos sobre nós mesmos. Que olhamos para nós como se não fossemos humanos. Como se fossemos carne andante sem sentimentos, dores, angústias, direitos. Olhamos para nós como algo que deve agradar aos outros, não a nós. Algo que deve espelhar uma sociedade coberta e enterrada em conceitos previamente formados por velhas tradições que por si só já não faziam sentido.

Quando andar meramente pelo mundo, no teu corpo e como és, é um ato político… algo não está certo."
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