Texto publicado em: https://radiopluralufop.com/noticia/1025458/o-que-foi-o-hangar-110-o-berco-do-cenario-underground-no-brasil 

     O QUE FOI O HANGAR 110, O BERÇO DO CENÁRIO UNDERGROUND NO BRASIL

   O hangar 110 era uma das principais casas de show para o underground em São Paulo, foi quase o berço para que estilos como o punk, hardcore e metal crescessem. Por muito tempo, a casa foi um ponto de encontro para todos os fãs de underground. As pessoas iam para ouvir bandas novas e compartilhar  o amor em comum pelo cenário independente.
   O Hangar foi inaugurado por Cilmara e Marco Badin, mais conhecido como Alemão, em outubro de 1998. A ideia era abrir um espaço para o cenário alternativo e underground brasileiro, e não tinha outra reação. Muitos familiares acharam que Alemão estava ficando maluco, afinal, abrir uma casa de punk rock no auge do axé music era no mínimo inconsequente.
   Começaram a busca pelo local ideal e encontraram um galpão localizado no número 110 do Bom Retiro, de início não gostaram do ambiente por questões de estrutura. Buscaram um pouco mais, mas acabaram voltando ao que no futuro se tornaria o Hangar. Eles tinham um conceito simples, queriam shows que começassem cedo e terminasse até às 23h, para que o público ainda pegasse o último metrô para casa.
   No primeiro momento as pessoas acharam estranho, chamavam até de matinê. Mas a estratégia funcionou bem, chegavam cedo, tomavam uma cerveja, curtiam o show, compravam umas camisetas, CDS da banda que tocou no dia e assim não ficavam muito bêbados e ainda movimentavam o cenário underground paulista.
   A banda que inaugurou a casa era ninguém menos que a CPM22, que na época era apenas um grupo de jovens despretensiosos que só queriam compartilhar seu som com a galera. Abriram a casa logo depois que a banda Gritando HC, atração principal no dia, se atrasou e teve que cancelar seu show. Então Badauí entrou em cena, mas infelizmente a adesão da casa foi baixa e apareceram em média 180 pessoas, um número abaixo do esperado.
   Cilmara e Marco tinham como meta  insistir com o funcionamento da casa de show até setembro de 1999. Caso o negócio não gerasse lucros, fechariam as portas. Tudo seguia relativamente até o show de uma banda chamada Varukers, que tocaram sexta e sábado. O primeiro show, teve poucas pessoas, porém o show de sábado foi quase um ponto de virada para a casa, fecharam a rua e a banda fez um show incrível.
A casa foi ponto de referência por muitos anos e bandas que mais tarde se tornariam mainstream tocavam sempre no Hangar. O já citado CPM22, Ratos de Porão, NXZero, Fresno, Dead Fish, Matanza, Hateen e muitas outras passaram por esse palco lendário. O sucesso foi tanto que chegaram a fazer shows internacionais de pessoas como Marky Ramone, CJ Ramone, Brujeria. Era um grande desafio fazer eventos com essa dimensão, mas alemão afirma que eram sempre muito bem organizados e seguros.
   O fim do Hangar 110?
   Alemão anunciou que 2017 seria o último ano de funcionamento da casa. Houveram shows incríveis de bandas que tocavam muito naquele palco, muitas homenagens e comoção do cenário underground que frequentava o ambiente. E a banda que fez seu último show foi a mesma que abriu, CPM 22.
   A casa fez história mas teve que fechar. Alemão conta em entrevista para UOL que não tinha dívidas, se quisesse continuar, poderiam, mas o som está mudando. Queriam fazer uma casa de rock, em todas suas vertentes, então partir para outros estilos musicais como MPB, funk ou qualquer outro gênero seria como ceder ao mercado. Então o Hangar fechou, mas não morreu, continuam como uma produtora que realiza outros shows e o festival Oxigênio.
   Porém, em fevereiro de 2020, três anos após seu fechamento, o Hangar anuncia em seu perfil oficial do instagram que voltariam a ativa com o mesmo nome que imortalizou aquele galpão e endereço. Infelizmente ainda seguem parados devido a pandemia, mas frequentemente fazem posts em suas redes sociais e uma coisa é certa, o lendário Hangar 110 voltará a ativa!
Rayan Martin
HARD NEWS
Texto sobre entrevista concedida por Vivi Torrico

          Projeto Social TrampoLink emprega pessoas em situação de rua
A argentina Vivi Torrico, tem conseguido empregos fixos para pessoas em situação de rua na cidade de São Paulo, através de sua plataforma solidária no Instagram, TrampoLink. Visando reinserir eles na sociedade, Vivi oferece a confecção de currículos e condições para que possam ingressar no mercado de trabalho.
           Idealizado e executado em 2021 por Vivi, o TrampoLink já conseguiu emprego para 40 pessoas em situação de rua, das 60 inscritas e parceria com uma fábrica de panetones que oferece 150 vagas de emprego, que serão preenchidas conforme for necessário. O projeto realiza uma entrevista com eles perguntando sobre suas experiências, sonhos e traçam o perfil de cada um. Com essas informações conseguem criar um currículo para ser distribuído em empresas contratantes. Essas, quando contratam alguém, recebem uma espécie de manual de como tratar uma pessoa em situação de rua e consiste basicamente em frisar que todos são diferentes e merecem um tratamento respeitoso e humanizado, dando também algumas dicas como não pedir o comprovante de residência. Além disso, essas pessoas em vulnerabilidade social também recebem um manual de como se portar na empresa, com instruções básicas como “Se trabalhar na cozinha, cortar as unhas.” “tomar banho todos os dias, coisas simples já que muitas coisas se perdem devido a sua convencia na rua” conta Vivi em uma entrevista concedida a alunos da Universidade Federal de Ouro Preto (UFOP).
            Vivi relata que o que move esse projeto é o amor e a força de vontade, uma vez que a taxa de desemprego é de 14,7¨% e as pessoas em situação de rua são “andarilhos” e não possuem um contato fácil como um telefone, endereço fixo. Então, quando contatada pela empresa, ela sai em busca da pessoa em específico pela cidade de São Paulo, e apesar de saber onde pode lhes encontrar, nem sempre é fácil assim. Diante de todo esse suporte para conseguirem um emprego, o trampolink oferece uma ajuda depois de contratado, dando uma aula de educação financeira básica para que possam juntar dinheiro e consequentemente não gastar tudo com futilidades ou vícios.
            Fora esse projeto, Vivi Torrico idealizou o projeto Solidariedade Vegan que distribui marmitas veganas para essa mesma população em situação de rua. O projeto que nasceu no começo de 2020 e com o dinheiro do próprio bolso, hoje já conta com a distribuição de 100 marmitas diárias, o Solidariedade vem contando com o apoio de pessoas influentes como Marimoon, Marcelo D2 e o cenário do Metal mundial, além do catarse que recebe doações mensais de quem se propõe a ajudar. Ela realiza todas suas ações sociais não para ajudar essa população a continuar sobrevivendo, mas oferece oportunidades para que possam sair dessa situação de rua e até mesmo ajudando a acabar com seus vícios.
REPORTAGEM
Texto publicado em: https://sites.ufop.br/lamparina/blog/“tá-de-chico-o-tabu-da-menstruação-e-pobreza-menstrual

“Tá de chico?" O tabu da menstruação e a pobreza menstrual
Agosto 24, 2021
Como o tabu, desinformação e como isso afeta na questão da pobreza menstrual
Por: Rayan Martin, Beatriz Dantas e Livia Labanca

“Uma mulher que não tem condições de ter uma higiene adequada até pede comida se estiver faltando em casa, ela pede o básico para os filhos, mas ela não vai pedir um absorvente”, afirma a ginecologista Meiry Marques, de Guaxupé (MG). Ela mostra como a menstruação ainda é um grande tabu no Brasil, o que junto com os preços altos dos produtos de higiene e cuidado pessoal, faz com que muitas pessoas não consigam o mínimo para ter dignidade menstrual.
Não falar sobre a menstruação já é um jeito de dizer algo sobre ela. Isso significa que não colocar o assunto em pauta aumenta a desinformação, de modo que atinge tanto quem menstrua quanto o restante da população. Além disso, ajuda a perpetuar os preconceitos e tabus relacionados a isso no dia-a-dia. Essa junção entre a desinformação, o preconceito e a falta de recursos é o que se chama de Pobreza Menstrual.

Um problema maior do que se imagina
A pobreza menstrual é um problema que atinge principalmente pessoas negras, de periferia e presidiárias, de acordo com relatório da UNICEF. A situação acontece devido à falta de acesso a itens de higiene íntima e de estrutura para poder se cuidar e até mesmo de informações sobre a menstruação, o que pode gerar uma série de problemas como infecções. Segundo a médica ginecologista Meiry Marques, em um primeiro momento, as consequências podem ser simples e localizadas, mas com o tempo podem evoluir para uma infecção interna muito grave, causando até mesmo a infertilidade.
 Segundo dados da ONU, a média global de meninas que faltam às aulas devido a problemas relacionados à pobreza menstrual é de 1 em cada 10. No Brasil, a média é de 1 em cada 4 meninas.
 A falta de acesso a itens como absorventes está intrinsecamente ligada à questão financeira, uma vez que, uma pessoa gasta em média 6 mil reais durante toda sua vida fértil, além de absorventes serem taxados em 27,5%, um valor superior a tributação de itens não essenciais, isso expõe todo o tabu acerca da menstruação.
A professora de geografia Paloma Oliveira que leciona na Escola Estadual Rodrigo de Castro Moreira Pena, uma escola da periferia de Santa Bárbara (MG), conta que frequentemente as alunas pediam absorvente pois não tinham condições para comprar. “Na escola até temos absorventes, mas o problema de verdade é não ter em casa”, explica. E isso se repete para mais de 4 milhões de pessoas que não têm acesso a itens mínimos de cuidados menstruais na escola, e das 713 mil meninas que vivem sem acesso a banheiro ou chuveiro em seu domicílio, segundo dados do UNICEF. 

A desinformação e o tabu da menstruação
Além da questão financeira e estrutural, a pobreza menstrual está muito ligada também à desinformação em relação à menstruação. O que é intensificado devido ao assunto ainda ser tratado como tabu. Isso pode ser percebido na mídia e no marketing, quando se nota que em propagandas de absorventes nunca é mostrado a representação do sangue menstrual vermelho, ou quando são colocadas situações em que mulheres estão usando calças brancas e se envergonham das manchas, sempre associado à slogans que remetem ao fato de que com aquele produto será possível esconder aquilo que  “envergonha”.
Assim, grande parte das pessoas não conversam sobre e consequentemente não há o conhecimento necessário para combater os problemas relacionados à higiene correta e à naturalização da menstruação. A professora Paloma conta as dificuldades enfrentadas em sala de aula como a percepção de que algumas alunas não sabem o que está acontecendo com seu próprio corpo e só descobrem o que é a menstruação por meio de outra colega que já menstruou. A escola não atua na problemática, nem com os alunos e nem com os pais ou responsáveis.
A menstruação é comumente associada a um período sujo, a falta de higiene. Expressões como “estar de chico” ou “naqueles dias” são usadas para se falar sobre o ato natural de se menstruar. Essas associações trazem desconforto e vergonha às jovens. “Já aconteceu de precisar ensinar uma aluna como colocar o absorvente na escola pois ela nunca teve instrução ou diálogo sobre o assunto em casa”, reforça a professora. Esse tipo de relato expõe a problemática da pobreza menstrual e como é necessário combater o problema principalmente através de políticas públicas.

Políticas públicas para o combate à pobreza menstrual
            É difícil notar políticas públicas para assuntos que não são discutidos. Ao falar sobre distribuição de absorventes gratuitos isso fica mais claro, pois aparecem comentários relacionando os cuidados com a menstruação a algo supérfluo - principalmente de pessoas que não menstruam, da mídia e também nota-se com base na tributação dos produtos - como se higiene pessoal não fosse algo relevante para ser caracterizado como cuidado básico, sendo que, mais da metade da população brasileira lida com isso em grande parte da vida.
Pensando em propostas a nível federal, a deputada federal Tábata Amaral (Sem Partido) propôs em março de 2020 a distribuição gratuita de absorventes higiênicos por meio do PL 428/2020. Porém, o projeto de lei segue em tramitação na câmara dos deputados.
Justamente por não haver uma ação que atinja todo o território nacional, tem existido mobilizações em torno da causa em diversos municípios. Cidades como Divinópolis e Ouro Preto, ambas em Minas Gerais, já possuem projetos para amenizar o problema. Em Divinópolis, as vereadoras Lohanna França (Cidadania) e Ana Paula do Quintino (PSC), através de sugestão do prefeito Gleidson Azevedo (PSC), propôs o já aprovado projeto de lei da Dignidade Menstrual, que contou com a arrecadação de 10 mil absorventes em menos de 1 mês. O projeto tem como objetivo a conscientização acerca da menstruação visando combater a precariedade menstrual com diversas ações: entrega de absorventes, distribuição de cartilhas, etc. Em Ouro Preto, o mesmo aconteceu através da vereadora Lilian França (PDT), única mulher da câmara municipal, que também propôs um projeto de lei, que surgiu da Universidade Federal de Ouro Preto, para o combate à problemática da menstruação. “Estamos amadurecendo a ideia de comprar para a cidade uma fábrica de absorventes”, conta a vereadora.

ONGs
            Além de propostas governamentais, pessoas e entidades fora da esfera política fazem a diferença propondo soluções e combatendo o problema onde podem.
É o caso da ONG Sangue Nosso, de Fortaleza, que tem realizado a distribuição de absorventes e kits básicos de higiene para pessoas em situação de vulnerabilidade, não só nessa região, como também em outras áreas. Essa atuação é voluntária e funciona a partir de doações que são revertidas para as compras dos itens necessários, no kit há um sabonete, duas máscaras, uma calcinha, dez absorventes, papel higiênico, pasta e escova de dentes. Com esse projeto já foram entregues cerca de 20 mil itens para garantir a dignidade menstrual básica para quem recebe, de acordo com Larissa Maia, idealizadora da ação.
A marca de coletores menstruais Violeta Cup também pensou em soluções. Em conjunto com a ONG Plan International é realizada a doação de coletores menstruais em Codó, no Maranhão, em locais onde as pessoas que menstruam terão condições de higienizar o objeto, como por exemplo, o acesso à água. Os coletores são uma das novas opções ecológicas e mais higiênicas para o período menstrual de pessoas que menstruam e também ajuda a longo prazo, pois tem vida útil de no mínimo 3 anos, enquanto um pacote simples de absorvente pode durar  menos de um mês.

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