ERA DIGITAL

Eu peguei o melhor dos mundos.

Na infância, eu tinha o costume de brincar na rua com meus vizinhos, mas também peguei a época do início dos computadores, quando eles tinham enormes caixas como monitores. Aquele tempo era muito divertido. 

Ao longo do tempo, a tecnologia avançou de uma maneira que nos permitiu a comunicação com pessoas muito distantes e isso é incrível. No entanto, apesar de termos ganhado essa vantagem, perdemos um pouco da nossa autonomia para os aparelhos eletrônicos - principalmente o celular. 

"Naquele tempo todos os povos falavam uma língua só, todos usavam as mesmas palavras. Alguns partiram do Oriente e chegaram a uma planície em Sinar, onde ficaram morando. Um dia disseram uns aos outros:
— Vamos, pessoal! Vamos fazer tijolos queimados!
Assim, eles tinham tijolos para construir, em vez de pedras, e usavam piche, em vez de massa de pedreiro. Aí disseram:
— Agora vamos construir uma cidade que tenha uma torre que chegue até o céu. Assim ficaremos famosos e não seremos espalhados pelo mundo inteiro.
Então o Senhor desceu para ver a cidade e a torre que aquela gente estava construindo. O Senhor disse assim:
— Essa gente é um povo só, e todos falam uma só língua. Isso que eles estão fazendo é apenas o começo. Logo serão capazes de fazer o que quiserem. Vamos descer e atrapalhar a língua que eles falam, a fim de que um não entenda o que o outro está dizendo.
Assim, o Senhor os espalhou pelo mundo inteiro, e eles pararam de construir a cidade. A cidade recebeu o nome de Babel, pois ali o Senhor atrapalhou a língua falada por todos os moradores da terra e dali os espalhou pelo mundo inteiro."
— Gênesis 11:1-9

O que aconteceu foi que nossa "benção tecnológica" se tornou nosso deus e, como tal, ele exige veneração. Somado a isso, Tim Keller explica(1) que toda cultura que não é baseada em Deus cria um ídolo que causa divisão, algo que é evidente na temática do presente texto. 

Substituímos o relacionamento interpessoal pela conexão com as máquinas. Por exemplo, eu percebo que fico muito tempo no celular no meu tempo livre e isso rouba minha produtividade em grandes quantidades. Na prática, construímos nossa fé na tecnologia numa rocha e viramos reféns disso.

No texto de Gênesis em que se fala da Torre de Babel, o ser humano quis ser autossuficiente e, por vontade direta de Deus, a empreitada foi destruída. No caso da tecnologia, construímos nossa própria armadilha e colhemos os frutos disso. Uma cultura sem Deus está fada à ruptura.

A maior prova disso são as discussões que ocorrem nas redes sociais, porque, de alguma forma, lá, as pessoas passaram a se colocar de maneira estereotipada e, agora, agem de acordo com a vontade de pequenos grupos odiosos para poderem se encaixar neles. As opiniões políticas, musicais, filosóficas ou até mesmo teológicas são tomadas como verdade que deve ser imposta ao outro custe o que custar. As pessoas passam por cima das outras para que prevaleçam suas ideias. Muros são construídos no lugar de pontes.

A minha geração ainda viu um resquício do mundo sem a internet como força predominante, mas as gerações mais jovens, talvez, conheçam o mundo através do universo digital e formam relações a partir dela. Sendo assim, formam seu caráter nessa nova era de informações.

Há uma pesquisa(2) do neurocientista Michel Desmurget que chegou à conclusão de que os jovens, pela primeira vez, estão menos inteligentes que seus pais. Historicamente, as pessoas de gerações mais novas são mais inteligentes que as das anteriores. Michel elenca como fatores essenciais para esse resultado a diminuição das relações intrafamiliares e a menor frequência de outras tarefas, como tocar um instrumento, fazer o dever o dever de casa e outros. A exposição das crianças à essa quantidade de tecnologia sem moderação pode acabar levando a uma idiotização porque elas apenas recebem conteúdo e não aprendem a desenvolver algo útil, não há desenvolvimento da massa encefálica.

Entretanto, vejo que o mesmo alerta deve servir para todos nós que estamos inseridos no meio digital, pois também estamos suscetíveis a nos tornamos escravos da tecnologia.

Para além das teses neurológicas sobre a influência da tecnologia em nossos corpos e mentes, os filmes de Hollywood trataram de criar infinitos roteiros relacionando robôs à destruição do mundo ou ao domínio deles sobre a Terra, como é o caso de "Eu, Robô" (2008), em que os robôs existem para servir humanos por receberem uma programação que os impede de se revoltarem contra nós, mas acontece um assassinato em que presume-se que pode ter sido cometido por um robô que foi desconfigurado por alguém que descobriu como isso pode ser feito.

"Muitos correrão de uma parte para outra, e o conhecimento se multiplicará"
— Daniel 12:4

As novas tecnologias permitiram que o ser humano crescesse em diversas áreas do conhecimento ao longo do século XX. Em 60 anos, a humanidade deixou de andar à cavalo e foi para a Lua, uma evolução assustadora. Dentro da nossa fé, entretanto, avolumaram-se teorias sobre como isso seria uma maneira de favorecer o governo do anticristo. 

Nos anos 1990, o vilão das Igrejas era o código de barras, que era relacionado com as profecias do Apocalipse sobre a a obrigatoriedade da marca da besta para que fosse possível comprar e vender. Mais tarde, outra teoria apontava para um microchip que seria colocado nas mãos ou na testa — também seguindo os moldes das profecias da Bíblia. Recentemente, a suspeita recaiu sobre o PIX como sendo a marca.
As teses se acumulam na internet aos montes, mas o fato é que poder da tecnologia não está nela, mas na veneração que prestamos a ela ao invés do verdadeiro Deus. O risco então, fica mais por conta de esquecermos de nossas conexões interpessoais e com o nosso Pai por estarmos viciados nos prazeres que a era digital nos proporciona. 

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REFERÊNCIAS:
(1) Tim Keller: Racismo e Justiça à Luz da Bíblia. 2020.
(2) https://www.bbc.com/portuguese/geral-54736513
https://noticias.r7.com/hora-7/sophia-robo-que-prometeu-destruir-humanos-sera-produzido-em-massa-13022021
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