Sozinhos venceremos
 
Com foco em esportes individuais, COB quer melhores resultados nas Olimpíadas no Brasil; atletas da região apostam no sonho.
 
Carolina Becker
Izadora Pimenta
 
 
Após a participação da delegação brasileira nos Jogos Olímpicos de Londres, o Comitê Olímpico Brasileiro (COB) divulgou algumas medidas que visam aumentar o potencial olímpico do Brasil. Uma delas é o maior incentivo ao esporte individual, que costuma ser menos valorizado do que os esportes coletivos, como futebol e vôlei, mas que são os principais motores de medalhas na competição.  
 
Em Londres, o chamado Time Brasil, que é uma marca designada pelo COB que engloba todo atleta que veste a camisa brasileira, teve a melhor participação em Olimpíadas. Mas o órgão quer mais. Para 2016, aumentar esse incentivo e manter a força dos esportes coletivos é uma estratégia para atingir a meta de estar presente no Top 10 do quadro de medalhas. “O COB atualizou seu plano estratégico para nortear suas ações, com beneficio direto de tudo o que envolve a meta de fazer do Brasil uma potência esportiva sustentável, com resultados que se mantenham regulares ao longo do tempo. Com o plano, o COB passa a contar com uma ferramenta de planejamento a médio e longo prazos, flexível o bastante para ser ajustada às demandas de cada momento”, diz Alexis Panno, integrante da Gerência de Comunicação do COB.
 
Um dos atletas que recebe incentivo do Comitê é o paulista Daniel Paiola, atleta do badminton que foi bronze nos Jogos Panamericanos Rio 2011 e que não se classificou para Londres 2012 por pouco. Daniel começou no esporte por conta própria, em 2008, indo treinar em Portugal, e partir dos resultados positivos, começou a receber apoio do órgão. Mas apesar do apoio, ele ainda sente que o seu esporte é desvalorizado no Brasil. “Infelizmente é o que acontece no país do futebol.Não é justo me cobrarem resultados se tudo que eu faço é por amor ao esporte que eu amo. Se não fosse minha família, eu jamais poderia estar realizando um sonho”, conta Paiola.
 
Na mesma situação está o mesatenista Hugo Hoyama, que já competiu em seis Jogos Olímpicos. Recordista brasileiro em número de medalhas em Jogos Panamericanos (nove no total), ele começou sua carreira aos sete anos de idade, sendo convocado para a seleção brasileira de tênis de mesa aos dezessete, após passar uma temporada de treinos no Japão. Para ele, somente os recursos vindos do COB não são suficientes. “O COB tem se empenhado em conseguir mais recursos para as confederações esportivas, para que assim os atletas possam se preparar melhor. Há um incentivo maior, mas é importante também a ajuda de patrocinadores. Os atletas não podem depender somente do COB e do governo”, acredita Hoyama.
 
No entanto, Alexis confia que os jogos no Rio de Janeiro deem um impulso para a popularização do Time Brasil como um todo. “Estamos vivendo um momento único para o esporte nacional e temos que aproveitá-lo ao máximo. Os investimentos no esporte estão crescendo a cada dia e com a união de todos os segmentos da sociedade temos todas as condições de alcançarmos resultados inéditos”, afirma.
 
O esporte na região de Campinas
 
Por aqui também existem atletas batalhando por uma oportunidade de participar de grandes competições. È o caso do judoca Pedro Pessoa, de 16 anos. Campeão Sul-americano e Pan-americano em sua categoria, o atleta treina na cidade de Valinhos, mas diz que não recebe nenhum tipo de ajuda do município em que reside, Vinhedo, ou de qualquer entidade esportiva. Segundo ele, os custos de participação em competições têm que ser arcados pelos pais ou através de apoio de patrocinadores. “O incentivo ainda é muito pequeno. Os atletas que conseguem chegar a uma Olimpíada fazem um esforço enorme, e normalmente, possuem uma vida inteira de privações e dedicação, demorando muito até ganhar algum reconhecimento por parte do governo”, diz.
 
Em Campinas, há um órgão da prefeitura que  destina verba para projetos esportivos, o Fundo de Investimentos Esportivos de Campinas (FIEC). Mas apesar dos cerca de R$3mi destinados ao esporte, esta quantia não é suficiente para atender a demanda dos atletas, que necessitam de boa infraestrutura para os treinos e cuidados com a saúde, como assistência nutricional, fisioterapeutas e preparadores físicos.
 
André Bilia, atleta do taekwondo, é vice-campeão mundial universitário Belgrado-Sérvia 2008 e campeão dos Jogos Sulamericanos de Medellin 2010. Ele iniciou sua carreira na cidade, mas conta que mesmo fazendo parte do time principal da seleção brasileira de taekwondo, juntamente com atletas olímpicos como Diogo Silva e Natália Falavigna, nunca recebeu nenhum tipo de incentivo por parte do município, e que, por isso, mudou-se para São Caetano do Sul. “A falta de incentivo e de mídia ajudam a manter esse grande esporte desconhecido por grande parte da população brasileira. Se houvesse mídia, haveria muito mais patrocinadores e apoio aos atletas, e isso seria revertido em melhores resultados e aumento da popularização do taekwondo”, idealiza Bilia.
 
Incentivo do público
 
O COB prepara uma estratégia para que os atletas brasileiros recebam incentivos por parte da população, bastante focada nas redes sociais. O fortalecimento da marca do Time Brasil será fator determinante na popularização de atletas de diversas modalidades.  “A marca acompanha o objetivo de transformar o Brasil em uma potência olímpica, a partir da liderança do COB na preparação de atletas e equipes, na criação de ídolos e no aumento da percepção de valor do país”, explica Alexis.
 
Paratleta busca reconhecimento
 
Além da falta de incentivo por parte do governo, quem é paratleta ainda encontra outras duas dificuldades: o reconhecimento do próprio Comitê Paralímpico Brasileiro e a adesão do público ao esporte paralímpico. É o caso de Caique Aimoré, 19 anos, paratleta de natação que possui Mosaicismo, uma Síndrome de Down em grau leve.
 
As Paralimpíadas comportam a categoria S14, que compreende todas as deficiências intelectuais. “Mas há de convir que um portador de Down, mesmo em grau leve como no caso do Caíque, tem uma lentidão maior, e acabam não se classificando para as Paralimpíadas. Nesta categoria competem até pessoas bipolares, que fisicamente são regulares”, conta Caiubi Aimoré, irmão do paratleta.
 
Recentemente foi criada a União Esportiva Para Atletas com Síndrome de Down. O órgão possui como principal objetivo promover mundialmente o esporte dos atletas com a deficiência, visando o crescimento e fortalecimento da categoria para que esta seja reconhecida oficialmente pelo Comitê.
 
Mas, antes disso, os paratletas não contam com o apoio da mídia e das empresas que incentivam o esporte. “Infelizmente, poucos acompanham o paradesporto na mesma intensidade do esporte regular”, analisa Caiubi, que acompanha de perto a carreira do irmão. Para Caiubi, 1% do apoio que o futebol brasileiro recebe já faria a diferença. “Paradesporto é esporte de alto rendimento, e não apenas superação. O ciclo paraolímpico 2016 já está aí, paratletas existem e nós esperamos que isso seja compreendido cada vez mais”, conclui.
 
*matéria produzida para o Saiba+, jornal laboratório da PUC-Campinas
Congelando o Brasil
 
Como “Avenida Brasil” passou de uma simples novela para uma ditadora de tendências, costumes e notícias
 
por Izadora Pimenta e Carolina Becker
 
Em um sábado à noite, um grupo de amigos havia levado bolos e adereços em um videokê no Jardim Chapadão, em Campinas (SP), para comemorar o aniversário do “Leleco”. Leleco, que na verdade se chama Décio, passou a ser chamado assim por conta do personagem de Marcos Caruso em Avenida Brasil, dono do apelido e de várias outras características intrínsecas ao aniversariante.
 
Cravando 51 pontos de audiência ao final, de acordo com dados do Ibope (cada ponto equivale a 60 mil domicílios na Grande São Paulo), Avenida Brasil, novela exibida pela Rede Globo no horário das nove no período de 26 de março a 19 de outubro, foi acompanhada pelo público com a assiduidade de um jogo de futebol - no qual dois times, as personagens principais Nina (Débora Falabella) e Carminha (Adriana Esteves), possuíam suas torcidas fieis. Ao contrário de suas antecessoras, “Avenida Brasil” conquistou um público que não estava acostumado a parar em frente da TV para assistir novela e ainda se tornou um exemplo claro de como duas mídias podem conviver lado a lado: a Internet também foi pautada por ela.

Segundo Nilson Xavier, especialista em telenovelas, autor do Almanaque da Telenovela Brasileira e dono do site Teledramaturgia.com, o sucesso de Avenida Brasil se atribui a uma série de fatores. “Uma ótima produção, uma direção cinematográfica e um elenco bem escalado em personagens cativantes e populares”, comenta. Pela primeira vez no horário de exibição, o subúrbio e as classes emergentes se tornaram palco principal das tramas, sem a distinção de núcleos “engraçados” ou “vilanescos”, já que todos os papeis carregavam várias verves.

O formato de seriado americano e as referências pontuais, bem acertadas pelo time de roteiristas, também foram importantes para fidelizar o público. “Os ganchos eram muito bons a cada capítulo”, completa Xavier.

IMPACTO NA VIDA DAS PESSOAS
 
Uma sexta-feira à noite poderia ser considerada apenas o dia que todas as pessoas esperam para descansar e começar a aproveitar o final de semana. Mas, aquela tal sexta-feira do dia 19 de outubro, era especial para aqueles que aguardavam ansiosamente pelo final da saga. A jornalista Kelly Ferreira era uma dessas pessoas. Apesar de não acompanhar Avenida Brasil assiduamente, estava ansiosa para ver o último capítulo da novela. E não perdeu por nada: tanto é que “deu o balão” - como define - no chefe para conseguir estar em frente à TV na hora certa. Chegou mais cedo ao trabalho, cumpriu suas horas e saiu sem avisar ninguém. “O trânsito tava um inferno porque todo mundo deve ter feito o mesmo que eu. Mas vi a Carminha e é isso o que importa!”, diz ela.

O final da novela rendeu inclusive pauta para o programa de rádio que apresenta no dia seguinte, o Esporte e Notícia, da Rádio Bandeirantes. O primeiro pedido de comentário feito pelos ouvintes foi o gol do Adauto, personagem de Juliano Cazarré, cena que encerrou o capitulo. “No dia seguinte, fiz o Neto [comentarista] abrir o programa falando disso”, completa.

O trânsito e o trabalho, no entanto, foram questões de um dia. Mas a novela também mudou a vida de outras pessoas por mais tempo, até mesmo depois de seu término. O militar aposentado Décio Ferreira Mendes, 59 anos, o “Leleco” do videokê, irá carregar o apelido por um bom tempo. “Assim que a novela começou, viram que, além de careca, o personagem era extrovertido e engraçado como eu”, conta. 

NA INTERNET

No Twitter, milhões de hashtags com os bordões da novela. Matérias e mais matérias convidando intelectuais para analisar o fenômeno ou, então, com algumas curiosidades pontuais sobre a trama. Ao observar o momento propício, a estudante de publicidade Ana Clara Matta, 22 anos, decidiu conectar a ideia da novela com seu recém-lançado site de cinema, chamado Ovo de Fantasma. Ela e os outros membros da equipe desenvolveram uma lista de como seria o último capítulo da novela se fosse escrito por alguns diretores de cinema famosos, como Woody Allen, Sofia Coppola e Quentin Tarantino. O resultado, no entanto, foi inesperado: diversos outros sites de grande repercussão replicaram a matéria, o que rendeu bastante visibilidade. “O Ovo de Fantasma duplicou, quase triplicou em fãs na fanpage do Facebook e cresceu absurdamente em acessos. O site é bem novo, então, o choque foi enorme”, conta Ana Clara.

Também de olho no momento, o estudante André Magalhães, 16 anos, e o jornalista Fernando Galassi, 22, se uniram para criar um blog intituladoAvenida Brasindie. “Na véspera do centésimo capítulo da novela, no qual ela teria uma reviravolta esperada envolvendo as duas personagens principais, virou moda “congelar” fotos pessoais como na última cena de todos os episódios, com um fundo característico que se tornou a principal identidade visual de Avenida Brasil. “Tivemos a ideia de fazer isso com artistas de música alternativa, misturando letras de música com referência a novela junto às postagens”, explica Fernando. “Avenida Brasindie”, que começou como uma brincadeira despretensiosa, entre amigos, acabou sendo destaque em alguns dos principais sites de notícia do país e virou tema até de artigo publicado no Observatório da Imprensa.

Para Ana Clara, a novela reverberou na internet por um único motivo - já vinha chamando a atenção dos telespectadores há muito tempo. “O Twitter imita a vida. E desta vez ele devolveu a experiência de assistir a uma novela, que já era prática abandonada e criticada pelos intelectuais há tempos, por conta daquele tal status de cult”. André, por sua vez, não acompanhou a novela, tendo assistido somente ao último capítulo na íntegra. “Mas me senti incluso socialmente ao saber quem era a Carminha”, brinca.

MÍDIA PAUTA SOCIEDADE

Para o professor Wagner Geribello, que leciona as matérias de Mídia e Sociedade e Teoria da Opinião Pública no curso de Jornalismo da PUC-Campinas, a imprensa também foi essencial para a popularização da novela como um todo, a partir do momento no qual o assunto passou a preencher as pautas dos veículos em geral. “A mídia define que o assunto importante que, teoricamente é de interesse público, é esse”,

Este tal fenômeno, no entanto, acabou encobrindo um dos assuntos recorrentes no país no mesmo momento: o início do julgamento do mensalão. Segundo Geribello, há uma tendência ao esvaziamento dos assuntos sérios para prevalecer os assuntos mais escapistas, de acordo com um raciocínio geral. “Uma matéria sobre o mensalão, as pessoas classificam como talvez importante, mas chata, algo que não leva a nada. Já uma matéria sobre a novela diverte”, conclui.

A produção independente de Filipe C.
Publicado em: http://www.mybackbeat.com/2012/10/a-producao-independente-de-filipe-c.html


Em pouco mais de uma década, o número de pais solteiros cresceu 28% no país, segundo pesquisa do Instituto de Economia Aplicada (Ipea). Por inúmeros motivos, homens se veem em uma situação na qual devem assumir várias funções durante o desenvolvimento de um filho - afinal, centralizar todas as visões de mundo em uma só figura não é tarefa fácil. No caso de Filipe C., que vive em São Paulo, capital, sua produção independente é um conjunto de erros e acertos que o atingem diretamente, sem depender da opinião de ninguém - e tudo isso o mantém estimulado.
 
A produção independente de Filipe, no entanto, aqui atende pelo nome de projeto solo - o que imediatamente o desclassifica, neste âmbito, do percentual do Ipea. Depois de trabalhar com bandas como Venus Volts, FingerrFingerr e Volantes, o músico decidiu aplicar seus próprios ensinamentos em algo que o permitisse trabalhar por si só. Com um EP (Silence, 2012) bastante elogiado, ele acaba de soltar mais uma amostra: a faixa The Solitude Of a Joyful Heart, em parceria com Marina Silva, da pernambucana Team.Radio.

Considerada por Filipe apenas "mais feliz" do que as músicas lançadas em Silence, The Solitude Of a Joyful Heart surgiu de uma ideia antiga. "Eu e a Marina nos conhecemos há uns quatro anos. Desde lá de trás já queria que ela participasse de alguma coisa minha, porque acho a voz dela muito legal. E aí, quando decidi lançar esse single, falei com ela. Trocamos umas ideias e ela gravou lá em Recife e me mandou", conta.

Do EP, lançado em junho, o músico conseguiu veiculações na TV e esteve presente em inúmeras resenhas e listas. Mas agora também é a hora de dar sua cara a tapa em um show de estreia, que será realizado neste sábado na Casa do Mancha, em São Paulo, com bastante fidelidade às músicas outrora apresentadas.

"Tenho mais quatro pessoas tocando comigo e um lap vai soltar todas as programações de cordas, metais e sopros. Detalhes que até pensei em tirar, mas muito do clima do EP vem desses arranjos que produzi na hora de gravar. Não tem como deixar de fora", detalha Filipe, que encontrou no dono da casa um bom parceiro para negociar a melhor data dentro de seu planejamento.

Quando questionado sobre um novo álbum, ele ainda prefere não arriscar, mas já aponta algumas possíveis novidades em seu som. "Tenho vontade, mas planos ainda não. O que já estou mirando é um novo EP ano que vem. Tenho algumas ideias já bem adiantadas porque nunca paro de compor. Quero ver o que produzirei até o meio de 2013, e se for algo realmente relevante, irei lançar. Estou experimentando até algumas coisas em português", revela.
Entrevista: Ludov fala sobre seus dez anos de carreira e planos para 2012

http://www.rocknbeats.com.br/2012/02/09/entrevista-ludov-fala-sobre-seus-dez-anos-de-carreira-e-planos-para-2012/

Habacuque Lima e Mauro Motoki são dois amigos de infância brasilienses que acabaram se mudando para São Paulo para estudar o mesmo curso, Publicidade – Mauro na USP e Habacuque, na ESPM. E na mesma ESPM também estudava Vanessa Krongold, que atraiu a atenção de Habacuque ao cantar em uma rodinha de violão. Quando ela se juntou aos dois amigos, estava formado o The Maybees. Sim, oThe Maybees.

Lá em meados dos anos 90, os três bebiam sons como 10.000 Maniacs, Cranberries, Pulp, Suede eBlur. Ganharam companheiros e assim despontaram na noite paulistana com composições próprias em inglês como Scream Queen e Onion Taste Hater. Deram uma cara pop à então chamada “cena indie” arriscando covers de Alanis Morrissette e Suzanne Vega. E tudo fluiu para que eles gravassem seu primeiro álbum, lançado pelo selo Polythene Pam. Depois veio também o primeiro clipe, para Scream Queen – o orgulho da banda, já que desbancou Ricky Martin na programação do TVZ.

Logo veio o segundo álbum, Picture Perfect, numa fase em que eles já estavam melhor relacionados dentro do cenário musical – conheceram um Los Hermanos iniciante e Vanessa era convidada para dividir vocais com o IRA!. Edgar Scandurra, aliás, participou do novo registro. Fernanda Takai, do Pato Fu, também. O Maybees tinha um dos melhores discos de rock nacional de todos os tempos e arrancava elogios por onde passava. Eis que surgiu a vontade de começar a compôr em português, o que eles até fizeram, incluindo em suas apresentações músicas como uma tal de Kriptonita.

Mas em 2001, o Maybees fez seu show de despedida porque as ideias que os integrantes tinham não batiam mais com a banda. Fim?

Na verdade, o fim do Maybees foi só o impulso para o começo de uma banda nova (mas não uma banda velha que havia mudado de nome). Em 2002, os mesmos integrantes subiam ao palco sob o nome de Supertrunfo, e apresentavam somente faixas em português. Com a necessidade de ser rebatizada, devido a inúmera quantidade de bandas com o mesmo nome, veio de Laranja Mecânica a inspiração para toda uma identidade. Surgia então assim a Ludov como nós conhecemos, que em 2003 trouxe o EP Dois a Rodar, responsável por emplacar o sucesso Princesa.

Em 2012, após três discos gravados, a Ludov, hoje formada por Mauro, Vanessa, Habacuque, o baterista Paulo Chapolin e, ocasionalmente, Bruno Serroni (que também foi integrante do Pullovers, junto de Habacuque), completa 10 anos de existência e não para: além de comemorar o aniversário em grande estilo com uma turnê, eles planejam ainda lançar mais dois EPs de inéditas ainda esse ano (o último lançamento da banda foi o EP Minha Economia, de 2011).

O Rock ‘n’ Beats conversou por e-mail com Habacuque Lima para saber mais desses planos, e também recapitular um pouco da carreira da banda até então. Confira!

Qual foi o momento mais marcante da carreira da Ludov até então?
Tivemos muitos momentos bons na nossa carreira, felizmente. O prêmio do VMB com o clipe de Princesa foi um deles. Gravar o Disco Paralelo com a produção do Chico Neves, em dez dias no Rio de Janeiro, foi outro momento importantíssimo pra todos. Nosso primeiro show em São Luís/MA também foi algo inesquecível, assim como um show mais antigo no Centro Cultural SP, onde o fã clube Ludovicos [fã clube oficial da banda] encheu o palco com flores. Também fizemos uma viagem a Buenos Aires, onde gravamos o clipe de O Que Eu Procurava para a Disney Channel, que foi demais!

Vocês acabaram pegando uma fase de transição do costume de se consumir música pelo CD físico e pela televisão (o clipe de “Princesa” foi bastante destacado na MTV) para o costume de se baixar álbuns, de conhecer música pela internet – tanto que a forma de divulgação do último EP, para quem não pode obter a cópia física personalizada, foi a mais digital de todas. Como vocês analisam isso? O que mudou para a Ludov?
Mudou muita coisa. Não só a distribuição da música, a facilidade de encontrar videos e informações sobre a banda, mas também a maneira de gravar e lançar os discos. No nosso disco Caligrafia, de 2009, fizemos o lançamento de todas as músicas via internet, com pocket shows transmitidos em streaming e comentários sobre cada música. O envolvimento de quem realmente gosta da banda aumenta muito, a gente fica bem mais próximo do público, isso é ótimo.
O último EP (Minha Economia, 2011) é o exemplo máximo disso. Gravamos no estúdio 12 Dólares (do Mauro Motoki e Fabio Piczowski) em duas semanas e lançamos tudo na internet. Pra ter algum material físico, fizemos discos, capas e encartes nós mesmos, um a um. Isso limita a quantidade física do EP, mas também o torna muito mais raro e interessante pros que curtem a banda.

E como estão os planos para a turnê comemorativa de 10 anos da Ludov? Já pensaram em algum formato, locais, setlist…?
A gente ainda está fechando as datas e as cidades pra essa turnê, mas começamos a montar o set list. A ideia é fazer um apanhado geral nos nossos discos: pelo menos ter 90% das músicas prontas a serem tocadas a qualquer momento e poder variar bastante os shows.
Além disso temos as músicas novas que estão sendo lançadas desde o fim do ano passado e continuarão a ser lançadas esse ano.

Nesses dez anos, tem alguma coisa que vocês gostariam de ter feito enquanto banda e ainda não fizeram?
Acredito que o que falta (e que todo mundo cobra) é uma gravação de um DVD ao vivo. Nós já planejamos isso algumas vezes, mas nunca nos resolvemos a realmente fazer. Quem sabe não é a hora de aproveitar esse ano comemorativo pra finalmente fazer esse show não é?

Vocês planejam lançar mais dois EPs para esse ano, certo? Tem previsão de lançamento? E um novo álbum completo da Ludov, quando sai?

Sim, o plano é lançar mais uns 2 EPs ainda no primeiro semestre (se tudo der certo) e então preparar o álbum completo. Como foi dito em uma das perguntas anteriores, a facilidade de gravar e distribuir as músicas (digitalmente) faz com que nada nos impeça de fazer tudo ainda neste ano de 2012. Quem sabe até o fim do ano teremos os EPs, o disco e mais algumas surpresinhas, né?

Alguns dos integrantes possuem projetos paralelos (o Mauro, por exemplo, lançou um álbum solo no ano passado) e a Ludov faz poucos shows por ano, comparada a outras bandas. É uma opção de vocês ter esse espaço para se dedicarem a outros trabalhos também?
A gente tem feito poucos shows mesmo, menos do que gostaríamos. Não é uma opção pra ter mais espaço para outros trabalhos, mas é sim um pouco da influência que nossos compromissos pessoais tem sobre a agenda da banda. Mas o Ludov é com certeza a prioridade de todos os membros. É só uma questão de momento nas nossas vidas, que faz com que a gente precise de mais espaço para outras realizações.
 
Marcelo Camelo e seu violão conquistam o Auditório Ibirapuera
 
 
 
 

“Posso estar só, mas sou de todo mundo”. O verso cantado por Marcelo Camelo em Doce Solidão nunca se mostrou tão verdadeira quanto na última sexta-feira (13), quando ele e seu violão abriram espaço para se reinventar e ganhar o palco e a plateia do Auditório Ibirapuera, em Sâo Paulo, numa apresentação única e inédita.

Com a participação do músico Thomas Rohrer, que trouxe uma rabeca para dar novos ares a faixas como Janta e Tá Bom, a ousadia de arriscar nesta espécie de apresentação se mostrou bastante eficaz, e confirmou que o momento é propício para Camelo, cada vez mais se destacando em sua carreira solo e se distanciando da figura de “hermano”.

Confirmação claramente expressa pela plateia, que parecia não se importar tanto com a ausência de algumas faixas (pedidos de Morena, que não estava no setlist, foram atendidos pelo músico, mas o mesmo não aconteceu com Vermelho). Camelo possui um público apaixonado e, mesmo que, em grande parte, remanescente da sua carreira com a banda carioca, é um público que já foi ganho pelos seus trabalhos seguintes e não se acanha em atender ordens como “quero ouvir todos vocês cantando essa” em Cara Valente, composição de Camelo gravada por Maria Rita.

A mesma plateia também foi responsável por protagonizar alguns afinados coros em faixas como Doce Solidão (“Com quem vocês aprenderam?” – perguntou Camelo) e A Outra.

O xodó de Marcelo para com a apresentação foi expresso com a faixa de abertura, Luzes da Cidade, uma declaração de amor rasgada de Camelo à mulher, Mallu Magalhães (que estava presente na plateia), composta especialmente para a ocasião. Antes do bis, ele pediu licença ao público para repetir e justificar a faixa, cheia de ares de Toque Dela (2011), já que alegou estar um tanto nervoso no começo: “Minha mão não parava de tremer”.

Toque Dela, aliás, passou longe de ser o foco, como vinha acontecendo nas últimas apresentações ao vivo do músico. Pra Te Acalmar e Tudo Que Você Quiser foram as únicas músicas executadas, enquanto outras como Ôô e Vermelho (entre as melhores nacionais do ano pelo Rock ‘n’ Beats e pela Rolling Stone Brasil) não passaram nem perto, mas ali não fizeram falta.

Camelo abriu também um considerável espaço para suas faixas que ficaram conhecidas nas vozes de outros músicos. Além de Cara Valente e a já manjada Santa Chuva, gravadas por Maria Rita, apareceram também Pra Falar de Amor, presente no disco de mesmo nome de Erasmo Carlos e Dois Em Um, adotada por Milena Monteiro, que casaram com o formato da apresentação de maneira bastante natural.

Novidade digna de elogio também foram as versões feitas para faixas do Los Hermanos. Tá Bom, com Rohrer na rabeca, encaixou tão confortável em sua nova roupagem que, depois de muitos anos, soou inédita em palco. A música já vinha sendo executada apenas no violão por Camelo na turnê de Toque Dela, mas emprestou da rabeca o charme que lhe faltava.

Marcelo Camelo deixou bastante claro que a noite era dele ao trazer um repertório aparentemente vindo de sua lista de preferências pessoais. Mas seu monólogo não poderia ter sido mais universal.
Cícero - Canções de Apartamento
 
 
Depois de figurar como Melhor Álbum Nacional de 2011 em várias listas,Canções de Apartamento, estreia do carioca Cícero, chega agora às lojas de todo o país pela Deckdisc da maneira que reverberou pela internet: com as mesmas faixas, a mesma gravação caseira, ainda disponível para audição na página do músico no Facebook e para download em seu site oficial.
 
Antes trabalhando de forma independente, Cícero conseguiu lotar casas de shows em vários estados antes mesmo de ver seu nome na chamada “grande imprensa”. O início de sua carreira meteórica deu-se prioritariamente pela divulgação em blogs de música, o que lhe rendeu uma dedicada legião de fãs. Mas o que este álbum tem de tão especial para se destacar em meio a tantos outros trabalhos divulgados da mesma forma?
 
Para começo de conversa, Canções de Apartamento não é só um álbum feito por um cara chamado Cícero. É um álbum, do primeiro ao último verso, sobre um cara chamado Cícero.
 
Formado em Direito sem vontade de exercer a profissão, sem uma banda (nos tempos de faculdade, era vocalista de uma banda chamada Alice), morando sozinho pela primeira vez em um apartamento de 25m² no bairro de Botafogo, Rio de Janeiro – distante da casa dos pais e a disposição para fazer e viver de música. Com estes fatores aliados à solidão, Cícero resgatou seus pensamentos, reflexões e ideias sobre a vida e transformou tudo isso em canções – gravadas dentro do próprio apartamento, como sugere o título do trabalho.
 
O resultado sincero pode ser encontrado neste álbum traiçoeiro. Tempo de Pipa, a faixa de abertura, é um convite aberto irresistível, formando um agradável par com a segunda, Vagalumes Cegos. Mas o que pode parecer imperceptível na primeira vez fica muito claro no final: estas canções já estão nos levando ao mundo de Cícero, e essa viagem não será tão fácil.
 
Este tal mundo de Cícero, a propósito, não se trata somente daquele pequeno espaço em Botafogo, mas também de uma mente cheia de percepções. E detalhes destas duas coisas estão escondidos ao longo das faixas. Durante a audição, nós podemos encontrar muito do que já ouvimos antes, mas, agora, com novos olhares. Tempo de Pipa, por exemplo, é uma espécie de releitura jovem e cheia de vida de Two Kites, faixa de Tom Jobim presente no álbum Terra Brasilis (1980). De Jobim, ele também empresta Dindi para a faixa Pelo Interfone. O jeito gilbertiano de cantar encontra as guitarras distorcidas do Sonic Youth, o cuidado dos Beatles de Rubber Soul (1965) e Revolver (1966) e as inquietações do Radiohead e do Interpol. Já que Caetano Veloso é um de seus maiores ídolos (You Don’t Know Me, de Transa (1972), dá a base para João E O Pé de Feijão), ele resgata o ideal da tropicália e nos mostra de maneira mais eficiente do que grupos como o Los Hermanos, outra grande inspiração sua, que a bossa nova pode, sim, casar com o rock and roll. De maneira tão delicada que chega a parecer natural, como se um sempre fizesse parte do outro.
 
Com esta exposição, o apartamento (no qual ele não mora mais, fisicamente) não está tão vazio. Quem ouve o álbum entra, senta no sofá, bebe um pouco de café e entende que Canções de Apartamento não é só um apanhado de canções bonitas: é uma confissão bastante conformista, com bagunçados começos, meios e fins, que pode causar alguns choques – mas choques cheios de esperança – naqueles que absorvem o conteúdo pacientemente.
 
Mas seu maior diferencial talvez tenha sido o rompimento com os principais elementos que vinham permeando a chamada cena da MPB alternativa e também a indústria fonográfica em geral. A conexão do passado com o presente se faz forte: enquanto as suas influências nos remetem a tempos antigos, sua persuasão dialoga perfeitamente com os tempos atuais. O disco gratuito e disponível para audição em todo e qualquer lugar e o contato direto e pessoal com os fãs através de suas redes sociais lhe concederam uma condição modelo de artista 2.0: aquele que realmente vai onde o povo está.
 
Não é só o lançamento pela Deckdisc que faz parte da trajetória de Canções de Apartamento em 2012. Cícero lançar clipes para todas as canções do álbum. Tempo de Pipa e Ponto Cego já possuem registros em grande rotação no YouTube e nos canais de música, mas o músico já possui na manga os vídeos para Laiá Laia e Açúcar ou Adoçante, que devem ser lançados ainda neste mês. Se Cícero está preparado para o público das massas, ainda não se sabe. Resta ao carioca um grande trabalho pela frente para expor todo o seu significado.
 
 
Cícero – Canções de Apartamento
Selo: Deckdisc
Preço médio: R$25
www.cicero.net.br
http://facebook.com/cancoes.de.apartamento
 
Crítica feita para a matéria de Estética da Comunicação (5º semestre), ministrada pelo Prof. Fabiano Ormaneze
Vivendo do Ócio se reinventa em "O Pensamento É Um Imã", seu novo álbum

http://www.rocknbeats.com.br/2012/01/21/resenha-vivendo-do-ocio-se-reinventa-em-o-pensamento-e-um-ima-seu-segundo-album/

Do rock cru vindo da Bahia com Nem Sempre Tão Normal, de 2009, a Vivendo do Ócio se mostra em maior liberdade criativa em seu segundo álbum, O Pensamento É Um Imã, que tem lançamento oficial nesta terça-feira pelo selo Vigilante, da Deckdisc.
 
Produzido por Rafael Ramos e Chuck Hipólitho e mixado em Los Angeles por “Big Bass” Gardner(Queens Of The Stone Age, Foo Fighters), o álbum segue um novo ideal de se arriscar mais. Os baianos deram abertura para se reinventar em alguns momentos, porém, em outros, se mantêm numa zona de conforto repleta dos mesmos refrões e recados rápidos do primeiro trabalho. Levando em conta o pacote completo, é possível visualizar uma balança quase equilibrada, mas que já nos mostra o lado para qual vai pender dali em diante: o Vivendo do Ócio quer assumir a sua própria identidade.

Os fãs mais antigos irão se identificar logo na primeira faixa, Bomba Relógio, que tem início com um riff bastante convidativo que dita as intenções já disseminadas pela banda. Mas quem pretende ver uma evolução significativa dos baianos, é bom pular logo para a quarta, Nostalgia, que junto às faixas seguintes, Dois Mundos e Radioatividade, trazem o recheio mais criativo e charmoso do álbum.

Nostalgia traz a participação discreta do Agridoce - Pitty nos vocais e Martin na guitarra – e nada mais é do que um ode à saudade da terra natal, com a letra escancaradamente autobiográfica casando de maneira delicada com as guitarras impecáveis. Última faixa a entrar no disco, de maneira não planejada, acabou se mostrando como o primeiro sinal claro da transformação à qual a banda se propõe, já que abre todo um espaço para ela mostrar toda a sua versatilidade com ousadia e classe.

Este mesmo caminho é seguido em Dois Mundos, uma faixa que remete bastante ao Skank de Maquinarama (2000) – não por acaso, álbum que marca também uma transição na carreira dos mineiros.Dois Mundos é – quem diria – a faixa mais pop da Vivendo do Ócio até então. Radiofônica ao extremo, acompanha o clima saudosista de Nostalgia em sua melodia. Para fechar esse ciclo, Radioatividade vai levando o ouvinte de volta para o som costumeiro da banda, mas flerta com as mesmas influências das anteriores.

Depois, a tal versatilidade só é encontrada na nona faixa, O Mais Clichê. Com a participação de Dadi, do Novos Baianos, surpreende ao trazer um quê de Alceu Valença ao disco, mas parece deslocada dentre duas faixas bastante roqueiras.

Para os que procuram ver a banda aprimorando o trabalho de Nem Sempre Tão Normal, a penúltima faixa,Preciso Me Recuperar, soa como uma releitura do trabalho, melhor trabalhada do que o original. O Mundo É Um Parque, que a antecede, também segue a mesma linhagem, mostrando que a banda aprendeu a domar melhor as suas inspirações na hora de transformá-las em canções.

Com O Pensamento É Um Imã, o Vivendo do Ócio tem um bom material para explorar o caminho já aberto ao longo dos três anos em atividade no espaço da música nacional, e também para aproveitar a carência atual de boas novas bandas de rock que estejam prontas para atingir os ouvidos de todo o público consumidor. Com os singles e as amostras certas, potencial não falta.
 
Odd Future: um show sem papas na língua em Paulínia
*parte de uma série de colunas sobre as atrações do SWU Music And Arts Festival
 
O ano é do rap. Mais precisamente de Tyler The Creator, garoto prodígio de 20 anos que levou o prêmio de Revelação mais recente Video Music Awards, realizado em agosto. E ele, junto com seu grupo Odd Future Wolf Gang Kill Them All – ou simplesmente Odd Future – traz essa conquista para o SWU, onde se apresenta no dia 12 de novembro no palco New Stage.
 
Odd Future é um coletivo composto por membros que possuem, além do grupo, carreias paralelas. A exemplo do líder Tyler: foi um lançamento seu de 2011, a faixa “Yonkers”, que colocou o nome do pessoal de Los Angeles em destaque na mídia especializada.
No entanto, o coletivo se destaca em um grupo no qual o rap anda junto à música alternativa, fazendo um estilo que divide opiniões e vem sendo chamado de "indie rap".

O que esperar do show do Odd Future?
Tudo. O Odd Future é polêmico, e gosta de fazer bastante barulho em suas apresentações. Todos com menos de 24 anos, eles fazem um rap sem papas na língua e extravagâncias de dar inveja a Ozzy Osbourne.

O coletivo não mostrou um show muito extenso no último festival que esteve presente, o Primavera Sound. Músicas de suas mixtapes apareceram na setlist, e há espaço para as faixas mais conhecidas de Tyler The Creator, como “She”, “Sandwiches” e, claro, Yonkers. E eles deixam o recado: querem ser melhores do que Kanye West.
Entrevista: Cambriana fala sobre início de carreira após álbum promissor

http://www.rocknbeats.com.br/2012/02/13/entrevista-o-promissor-inicio-de-carreira-da-cambriana/

Combinamos às sete da noite, mas Luís Calil chegou atrasado por conta de um bloco de Carnaval que estava passando na frente do seu prédio. Eu esperava pelo vocalista da Cambriana, banda que lançou seu primeiro álbum, House Of Tolerance, no mês passado. “Sem problemas”, disse ao baterista, Israel, que veio justificar. Quando Luís chegou – ele lá em Goiânia e eu, em Campinas – conversamos durante vinte minutos via Skype sobre as ideias e a iniciante carreira dos sete rapazes.
 
Depois que o álbum caiu na rede, o que impressionou logo de cara foi o resultado encontrado em House Of Tolerance. Com uma produção quase toda caseira (apenas vocais e alguns instrumentos foram gravados em estúdio), a Cambriana mergulhou em influências como Brian Eno, Radiohead, Grizzly Bear e até mesmo o britânico Jamie Woon. “Acho que o vocal da The Sad Facts eu roubei um pouco dele, dos trejeitos dele”, confessou Calil. Com o lançamento, já conquistaram um considerável espaço como uma das melhores revelações nacionais de 2012 até então.

Mas antes do lançamento, o relacionamento da banda com o que vinha acontecendo no cenário atual era praticamente nulo – o que está claramente refletido no som, sujeito à uma pergunta imediata fatídica: “Sério mesmo que isso é brasileiro?”. Os vocais em inglês, no caso, não são válvula de escape, e, sim, um lugar mais confortável, um lugar fixo na morada de Woons e Yorkes que a Cambriana adotou para seguir os seus caminhos musicais até o debut.

Luís, que contou achar que “soa idiota” quando canta em português, no entanto, procurou conhecer um pouco mais dos trabalhos de outros músicos independentes ultimamente, e destacou o elogiado EP de SILVA e o igualmente elogiado álbum do Bixiga 70.

Mesmo com um álbum com cara de maduro, a banda começa agora e não tem vergonha de assumir esse lado. Ainda estão um pouco perdidos na divulgação pela internet, e não anunciaram o primeiro show da carreira por “medo”. Mas o tempo é bastante favorável à Cambriana. “Parece que a gente nem fez tanto esforço e foi sozinho”, justificou o vocalista.

Confira abaixo a entrevista que Luís Calil concedeu ao Rock ‘n’ Beats.

Rock ‘n’ Beats: A produção do álbum é quase toda caseira, mas o resultado final é bastante superior a vários trabalhos mais produzidos que foram lançados no Brasil recentemente. E no Facebook de vocês, tá lá que vocês procuram “não desperdiçar o tempo de ninguém”. Vocês fizeram um disco muito bem trabalhado logo na estreia. Quais foram os caminhos que vocês percorreram até chegar ao som final da Cambriana?

Luís: Acho que na questão que você falou sobre produção, eu acho que não faz tanta diferença hoje em dia, porque a gente tem tecnologia pra fazer um disco de ótima qualidade, em casa, com pouco equipamento e tal… é questão de saber usar o que você tem, né? Agora se você estiver falando em termos de composição, do álbum, é meio difícil de explicar. As influências que eu tenho são nesse estilo e saiu meio que desse jeito, a gente não tava pensando em termos de complexidade ou… ou isso aí.

E falando no processo de composição, ele também foi colaborativo, né? Você tava em Goiás e tinha o Wanderson em Brasília. E vocês acreditam em compor primeiro a melodia ou primeiro a letra? E de onde vêm as inspirações pras músicas de vocês?

Em noventa por cento das vezes a música vem primeiro e depois a melodia. A melodia é uma parte que a gente deixa lá pro final. Inspiração você diz em termos da letra ou…

De tudo.
Cara, a gente faz música porque a gente gosta de música. A gente não tem interesse em expressar ideias políticas, ou sociais, ou coisa assim. A gente faz música pra música. A inspiração é o que a gente escuta mesmo.

Compor em inglês, pra vocês. A Mallu Magalhães declarava em entrevistas que era uma válvula de escape, mas daí ela acabou entregando um terceiro álbum bastante elogiado com várias composições em português. Por que a decisão de vocês de compor em inglês? É essa válvula de escape, é pra adequar ao estilo que vocês tocam…

Não, acho que não é pra adequar ao estilo não… todo mundo da banda, acho que a maior parte do que a gente escuta, é em inglês. Quando eu tento cantar em português, por exemplo, soa idiota. Parece que eu to falando outra língua, não soa certo.

Você acha então que a maneira de comunicar de vocês é em inglês?

É, por causa das músicas que a gente escuta. A gente não escuta tanta música brasileira, então tem essa falta de costume com vocal em português. Não é que a gente não gosta de bandas daqui, mas é uma quantidade bem menor. Então o costume tá em inglês mesmo.

Mesmo não escutando tanta música brasileira, tem algum artista que vocês destacam ultimamente?

Eu ouvi umas músicas do SILVA no Facebook. Eu achei legal, achei muito bem feito. Gostei também de umas músicas que eu ouvi do Bixiga 70. Eu gostei bastante… são meio afrobeat e tal… eu curto.

Você falou que escutou o SILVA pelo Facebook. Quanto a divulgação pela internet… em 2011 a gente teve uns exemplos como A Banda Mais Bonita da Cidade, que acabou se divulgando sem intenção por um clipe que virou viral, teve também o caso do Cícero, que tá lotando casas de shows e teve o trabalho todo divulgado no início por blogs, e também tem uma relação legal e direta com o público através das redes sociais… a Cambriana tem uma fanpage, um twitter e uma página no Bandcamp. Você acha que ainda precisa de mais alguma coisa pra divulgação de vocês ser mais incisiva ou essas coisas são suficientes para sustentar?

A gente tem planos de fazer clipes pras músicas do disco, mas a gente ta fazendo o que a gente costuma ver em bandas que a gente gosta, comunicar pelo Twitter, pelo Facebook.. ter uma presença online constante. Mas eu fico meio perdido no que fazer. A gente é novato, então não sabe muito bem como expandir. Mas eu acho que tá indo. A repercussão do disco e das músicas tá muito grande. Bem mais do que eu esperava. Parece que a gente nem fez tanto esforço e foi sozinho.

Quanto a essa repercussão… vocês vão fazer a estreia de vocês em palco agora no Grito Rock, em Goiânia, né? E Goiás tem aquela velha história clichê do sertanejo, mas a gente tem vários exemplos recentes que não têm nada a ver com sertanejo nem um com o outro, como o Black Drawing Chalks e a Banda Uó, e parece que isso tá superado faz tempo. E tem uma cena forte aí também… como que vocês enxergam essa cena?

A cena aqui é bem forte, pelo que me dizem. Tem o Noise, tem o Bananada, tem um monte de festival que tem relevância nacional. Mas pra falar a verdade eu não conheço tanta banda daqui. Eu to começando a conhecer agora, fazendo contatos com bandas daqui que estão conhecendo a nossa música também. Agora que a gente ta começando a se enturmar. Então… mas esse clichê é mentira, a cena rock aqui é bem forte sim.
E a gente não anunciou, mas teve um show ontem numa boate aqui em Goiânia, chama Metrópolis, foi nosso primeiro show. Mas a gente não anunciou porque a gente tava com medo, então… então o primeiro show oficialmente anunciado vai ser o Grito Rock.

Vocês lançaram sexta-feira o “Slow Moves”, que foi o novo single… e pelo que vocês já lançaram extra álbum, tem várias dessas faixas escondidas na manga, que foram feitas pro álbum, mas que não foram lançadas… vocês têm planos de lançar mais algumas? E como vai ser o 2012 de vocês até então?

Eu acho que a manga foi esvaziada. Pode ser que a gente lance mais alguma coisa nos próximos meses, mas o principal que a gente queria lançar já foi lançado com o Slow Moves. Mas a gente tem planos de gravar mais coisas esse ano, gravar um EP talvez, pro meio do ano… e a gente já tá gravando mais coisa, compondo mais coisa… e além do EP, a gente pretende tocar onde… onde deixarem a gente tocar (risos).

E com uma banda já madura logo no primeiro trabalho, bate aquela tensão de pensar num segundo trabalho da Cambriana, ou vocês pretendem absorver coisas novas, pensar em novos horizontes…

Eu imagino que vai ser diferente. Eu não acho que vai ser a mesma vibe do House Of Tolerance não. A gente tá escutando coisas que a gente não escutava antes… pelo menos eu, eu não sei o resto da banda… mas eu to ouvindo umas coisas… to ouvindo muita coisa eletrônica e muita música africana também. Pode ser que entre um pouco disso no meio. Mas vai ser diferente, eu espero que seja, eu não quero ficar me repetindo…

E como vocês estão começando a conhecer agora o cenário nacional, acha que isso pode influenciar também? Observar como essas pessoas estão criando suas músicas…

Eu acho que não. Eu acho que pode ser que apareça coisas muito interessantes aqui que possam influenciar a gente, mas o que a gente conhece daqui geralmente tem um estilo bem diferente. Se aqui tem Black Drawing Chalks, Banda Uó… pode ser que a gente faça um tecnobrega aí, vai (risos). Por enquanto, acho que não… é, não to negando nada.

Ao ver de vocês, vocês acham que esse fato de soar gringo atrapalha na hora de atingir o público?

Sim e não. Eu acho que o público que vai se interessar pelo tipo de música que a gente faz não tem tanto preconceito com letra em inglês. Eu acho que se a pessoa tem esse preconceito ela não vai nem se interessar pela música do Cambriana, se ela escuta só música em português. Acho que não, acho que não vai atrapalhar muito não. Pode ser que a gente perca alguns fãs que iam gostar mas geralmente curtem esse tipo de som… mas tudo bem, fica sem eles (risos).

Tem a The Sad Facts que, quando eu ouvi pelo menos… não sei se vocês chegaram a pensar nisso, ou se já falaram pra vocês… eu pensei logo de cara em Lizstomania, do Phoenix. E eu vi que o Phoenix não é uma das influências diretas, mas pelo menos quando eu ouço o álbum eu sinto alguma coisa da banda… e também tem na descrição que vocês enviaram pro URBe que é um “footloose para deprimidos”, né? (risos) Essa influência do Phoenix realmente existe?

Eu entendo como é que podem ter achado que parece Phoenix. Eu adoro Phoenix, mas eu não tava pensando nisso quando a gente tava fazendo essa música. Foi mais Footloose mesmo, só que com aquele toque deprê, meio soul também… tem um artista que eu gosto que soltou um disco no ano passado, chama Jamie Woon… acho que o vocal da The Sad Facts eu roubei um pouco dele, dos trejeitos dele.

Eu vi numa entrevista que o nome vem da “explosão cambriana”, que remete ao período em que surgiram grande parte dos tipos de animais na Terra e tudo o mais… daí o nome tem algum significado especial pra vocês ou é só um acaso, vocês acharam bonitinho e resolveram colocar?

Foi a segunda opção. A gente passou seis meses procurando um nome pra banda, aí o Wanderson falou: “Que tal Cambriana?”. E aí a gente falou “É, Cambriana é legal, né? Cambriana é uma palavra bonita”. E eu tinha uma certa noção do que significava, mas a gente não foi influenciado pelo significado… foi mais pela palavra mesmo, eu achei legal… soa legal… quando você escreve ela num papel, ou no Word… bonitinha.
Palmares do Século XII
Reportagem produzida para a disciplina de Jornalismo Comunitário da PUC-Campinas, em novembro de 2011

 
 
Os carros insistiam em querer passar, mas a Marcha Zumbi dos Palmares estava no caminho, e não era à toa. Este ano, os organizadores anteciparam a data do líder para o sábado, dia 19. Assim, quando saíram às ruas e fecharam o trânsito de Campinas, não puderam ser ignorados. A favor dos direitos da população negra, utilizando como principais motes a defesa das cotas nas universidades e a luta contra o genocídio da raça, mais de cinquenta comunidades marcharam por ruas movimentadas da cidade em pleno sábado de manhã para conscientizar os passantes dos problemas enfrentados por elas, mas tudo encarado em ritmo de festa.
 
A marcha teve início às nove horas da manhã na tradicional Estação Cultura de Campinas, e terminou às uma da tarde no Largo do Rosário. Todas as comunidades desceram cantando juntas ao som dos tambores e chocalhos, trazidos pelos grupos de Maracatu da cidade.

Marchas como esta são realizadas no Brasil desde 1995, ano do tricentenário da imortalidade de Zumbi dos Palmares, e ganharam força na cidade de Campinas no ano de 2000, quando o dia 20 de novembro se tornou feriado municipal. “Mas este ano, a cidade está parada no dia 20. Nós queremos ser vistos para mostrar a força da raça”, contou a organizadora, Edna Lourenço. “Assim como no século dezessete os negros lutaram por um ideal em Palmares, nós estamos todos aqui hoje pelo mesmo motivo, a única coisa que muda é o contexto”, sintetizou Everson Moreira, estudante de Geografia que integra a ONG Afro Brasil.

Comunidades presentes

Na concentração da Estação Cultura, as comunidades juntavam-se com seus membros. A Comunidade Jongo Dito Ribeiro, responsável por estar à frente da marcha, foi uma das primeiras a chegar no local. Com a liderança de Alessandra Ribeiro, historiadora que retomou a tradição do jongo, dança afro-brasileira típica do sudeste brasileiro, na sua família e na cidade de Campinas, pouco mais de dez participantes estiveram presentes para reivindicar seus direitos junto ao grupo.

“O Jongo Dito Ribeiro está aqui para externalizar uma consciência que nós já temos”, explica Alessandra. “É tudo uma questão de parceria. Estamos aqui para fortalecer a ação de nossos parceiros enquanto eles também fortalecem a nossa. É uma grande família”. Para Alessandra, a comunidade negra ainda tem muito que avançar no meio cultural e político, já que alguns ainda não dão tanta importância ao fato de estarem juntos, pois nem todos possuem a mesma integração dentro de sua comunidade em particular. “Mas nós marchamos também por isso”, acrescenta.

O grupo Maracatucá, representante do tradicional Maracatu de Baque Virado, proveniente do Recife, é composto por integrantes que não possuem descendência negra direta, mas também está presente desde o início da Marcha Zumbi dos Palmares na cidade de Campinas. “Nós gostamos de descer e falar o que a gente faz. Nós defendemos essa cultura todos os dias, nada mais justo do que também lutar junto a eles”, justifica uma das organizadoras, Glória Cunha.

Além do preconceito racial, também há o preconceito religioso com as crenças de origem africana. É o que motiva todos os anos o Pai Moacyr de Xangô, líder de um terreiro de Candomblé, e seu grupo, a participar da marcha. “O candomblé foi reconhecido como religião oficial apenas em 2000. É porque falta esse olhar do passado e do futuro na população. Se você diz para a sua família, ou num grupo de amigos, que você é terreiro de Candomblé, pode ter certeza que noventa por cento das pessoas irão virar as costas para você. É por isso que a gente marcha”.

A participação dos políticos na marcha

As lideranças políticas da marcha estavam representadas pelo prefeito de Campinas, Demétrio Vilagra, que se juntou no cruzamento da Rua Thomaz Alves com a Barão de Jaguara, e pelos vereadores Josias Lech e Tiãozinho, ambos vereadores do Partido dos Trabalhadores, o PT, que acompanharam o trajeto desde a Estação Cultura. Lech, descendente de poloneses, possui atuação permanente no movimento negro de Campinas, e justifica isso como uma opção pessoal. “Esse é o quarto ano que eu participo da marcha, que eu desço com eles, porque acho que isso é o mínimo que nós, autoridades, podemos fazer. Ajudar manter viva essa simbologia que é muito importante, não só porque enaltece, mas também pelo resgate histórico que ela representa”.

Tiãozinho, por sua vez, é o responsável pela instituição do feriado municipal de 20 de novembro, que está vigente em Campinas desde o ano de 2001. “Aqui em Campinas nós aprovamos, além do feriado municipal, a lei que inclui a História da África no currículo escolar, para que os jovens tenham consciência da importância da cultura negra para a construção da sociedade brasileira”.

Já Vilagra esteve presente para divulgar um novo serviço, o SOS Discriminação, sobre o qual comentou: “É um serviço para trazer as políticas públicas da igualdade racial de uma forma mais transparente. O Brasil é um país bastante rico na economia, mas ainda há uma pobreza de espírito que muitas vezes acaba afetando a comunidade negra”. – o funcionamento, portanto, não fora detalhado, mas no anúncio o prefeito prometeu dar início ao serviço no mesmo dia.

Outras comunidades se juntam

“Vocês sabiam que Campinas foi a última cidade do Brasil a abolir a escravidão? Que antes, o Cambuí era um bairro negro?”. Foi dessa maneira que o pessoal do grupo Anonymous, que está acampado em frente à Catedral Metropolitana de Campinas há um mês e duas semanas, também demonstrou seu conhecimento e apoio à questão defendida pela marcha. “Acho que a maneira com a qual eles protestam é até mais fácil de ser vista e absorvida do que um protesto político silencioso como o nosso. Mas, ao mesmo tempo, são impactos diferentes”, opinou “Smile” Tiago de Oliveira, que está desde o início no acampamento.

Portanto, não foram só as comunidades negras que se juntaram à marcha. Por se tratar de uma manifestação a favor das minorias, outras comunidades se sentiram acolhidas por ela, a exemplo da comunidade cigana. “Nós temos muitas comunidades ciganas, mas elas ainda não estão organizadas para lutar por seus ideais. A comunidade negra está. Por isso, é um ótimo início vir até aqui e juntar as minorias, para também aprender um pouco com eles”, disse Vanda Savá, presidente da Associação da Cultura Cigana do Estado de São Paulo.

Impressões da população

Durante as manifestações, houve quem não tenha gostado nem um pouco, principalmente os motoristas, que enfrentaram um trânsito paralisado no centro da cidade em pleno horário de pico. “Por que eles têm de sair na rua? Acho interessante a manifestação, mas não acho que eles devem atrapalhar a vida dos outros”, justificou o taxista Paulo Correia, que esperava a marcha passar pelo cruzamento da Treze com a Francisco Glicério para poder levar um passageiro ao seu destino.

O motoboy Olavo Lionel concordou com Paulo, mas mostrou mais intolerância ao assunto: “Isso é horrível. Olha o congestionamento no centro da cidade em pleno sábado. A causa vale a pena pra eles, mas acaba não valendo a pena para o restante da população”.

Mas durante a passagem da marcha pela Rua Treze de Maio, as comunidades realmente atraíram a atenção das pessoas. Era um sábado comum, os passantes não esperavam pelo barulho causado pelos tambores e cantos, mas a recepção foi, em grande parte, positiva. Algumas até saíam dançando junto.
Cleide da Silva saiu de uma loja e parou na porta para observar. “Eu acho isso tudo muito bonito. Nós todos temos que cair na real que somos todos iguais. Todos nós vamos para o mesmo lugar no final, não é?”, justificou a aposentada.

“Dá pra sentir que eles são alegres, que eles possuem um orgulho imenso de mostrar isso tudo para a gente”, é o que motivou a estudante Camila de Souza, parada logo ao lado de Cleide, a tirar fotos e tentar repetir os cantos entoados pelo pessoal do Jongo, uma prova de que a comunidade negra havia atingido seu principal objetivo naquele sábado.
Bandas brasileiras falam sobre o SXSW
*por Izadora Pimenta e Ana Clara Matta


Em um passado não muito distante, juntava-se uns quatro amigos, uns instrumentos baratos e alimentava-se o sonho praticamente impossível de virar uma grande banda e tocar no exterior. Hoje, com o advento da globalização virtual, a música de todos está disponível para todos. Aquela banda que só você e seu grupo de amigos conhecem por serem próximos pode ser a nova descoberta surpreendente de um passeio de um garoto de Istambul pelo MySpace.

O impacto, claro, já não é mais o mesmo que fez, por exemplo, a beatlemania gritar pelo mundo quando os quatro garotos de Liverpool pisaram nos Estados Unidos, mas justifica o cenário musical atual, onde bandas até então desconhecidas do grande público acabam se apresentando em grandes festivais ao lado de gigantes – no Brasil, este ano, tivemos Planeta Terra e SWU mostrando isso com seus palcos – e, claro, rompendo as barreiras virtuais e adquirindo seus vistos para atravessar as fronteiras físicas.

Tem banda hoje em dia que fica famosa primeiro lá fora para despontar (ou não) por aqui – a exemplo do Mickey Gang, que saiu de umas demos divertidas para uma viagem a Londres, ou então do Cansei de Ser Sexy, que já virou praticamente gringo.
 
E nessa nova realidade do mundo musical, na qual o hype cria grandes sucessos da noite para o dia, um pequeno passo dado através de iniciativas de divulgação própria de uma banda pode ganhar impulso facilmente e em uma velocidade inimaginável. Se nos anos 60, uma turnê internacional dos então iniciantes The Beatles consistia em noites mal-dormidas em bares do distrito bôemio de Reeperbahn, Hamburgo, hoje as novidades musicais de todo o mundo ganham um espaço bem mais organizado, uma babel de riffs e idiomas localizada na cidade de Austin, Texas: O South by Southwest Festival, ou, simplesmente, SXSW.

Chegando a sua vigésima quinta edição entre 10 e 20 de março de 2011, o festival é um dos mais importantes criadores de hype do planeta, e suas mostras de música e cinema são vitrines que expoem todas as bandas e filmes que você pode não conhecer, mas deveria. De acordo com a organização, o evento recebe mais de 13.000 representantes da indústria musical, 2.000 representantes da mídia e muitos fãs ávidos por música e diversão. É um lugar para ver e ser visto, um espaço que une pessoas influentes e incentiva negócios, além de trocas culturais entre as próprias bandas. Entre os artistas que despontaram no SXSW, a organização cita The White Stripes, Yeah Yeah Yeahs, Norah Jones e Cold War Kids.

Na última edição, mais de 500 artistas de 49 nacionalidades diferentes tomaram as ruas de Austin, entre eles, vários representantes brasileiros. O The Name, banda do interior paulista, esteve por lá e descreveu o funcionamento do festival: “O SXSW é algo surreal. São dezenas de ruas no centro de Austin fechada para trânsito e rolando shows em todos os lugares: meio da rua, terrenos, bares, restaurantes e até igrejas.”
Enquanto os shows oficiais tomam conta das noites texanas, unindo bandas de diferentes portes, a programação diurna oficial inclui palestras e discussões relacionadas à indústria musical. Mas se você acha que os shows param, está enganado: é nesse período que acontecem os showcases não-oficiais.

Para conquistar um espaço no festival e uma chance de ter sua carreira impulsionada, a banda deve se inscrever através do site Sonicbids e pagar uma taxa que varia entre 30 e 40 verdinhas, o que é pouco se comparado com a exposição adquirida. É arriscar e ser surpreendido, como fizeram os membros do Rosie and Me, que foram convocados para a edição de 2011 do festival: “Nós ficamos muito felizes com a notícia, porque fizemos a inscrição sabendo que muitas bandas boas estariam na disputa para tocar no SXSW” disse a vocalista Rosanne Machado, que também ressaltou a importância do festival na divulgação do grupo e na tentativa de conquistar um espaço no mercado exterior.

Mas até esse paraíso indie tem suas falhas. De acordo com depoimentos da banda Lucy and the Popsonics, que durante a última edição do South by Southwest relatou suas experiências através de um diário, aqui mesmo no Rock ‘n’ Beats, a qualidade do som nas apresentações de bandas menos estabelecidas deixa a desejar, enquanto as bandas maiores, que também dão as caras no festival em menor número, levam seus técnicos de som e conseguem resultados melhores. Uma pequena falha em uma experiência incrívelmente recompensadora para qualquer banda, qualquer gravadora ou qualquer pessoa que quer, como o garoto de Istambul que busca novos sons através do MySpace, se surpreender com a pluralidade de sons que o mundo oferece.

Como é tocar no SXSW?


“O público é fantástico. Tem gente de todos os lugares dos EUA e do mundo. Conhecemos muita gente e encontramos vários brasileiros, como os Copas, Lúcio Ribeiro, Lucy and The Popsonics, Dago (Neu Club) e outros, com quem fomos ainda assistir a alguns shows! Vale muito a pena estar lá e vivenciar isso”, diz Andy, guitarrista e vocalista do The Name, que se apresentou em três showcases (um oficial e dois não-oficiais), aproveitando também a esticadinha para marcar presença no estado de Arkansas, no VOV, e em um festival na cidade de Toronto, no Canadá, o Canadian Music Week.

Andy revela ainda que a banda deseja adquirir um pouco mais de estrada para voltar ao festival, visando um maior destaque na imprensa. Como são quase duas mil bandas  tocando, tudo vira uma grande bola de neve interessante para os críticos e frequentadores.  “Fica difícil escolher. Você sempre perde alguma coisa”, conta. Mas estas pessoas que ficam em dúvida em meio a tantos shows, segundo ele, compõem um público fantástico.  “Tem gente de todos os lugares dos Estados Unidos e do mundo. Mesmo pra quem não toca, mas está envolvido com o cenário musical, vale as economias pra estar lá, com certeza.”
Holger embarca pela segunda vez para Austin em 2011

A divulgação na mídia a partir do festival foi bastante importante para o Holger, que volta a Austin em 2011 após um ano meteórico no Brasil, com lançamento do álbum Sunga e apresentação no Planeta Terra Festival. A banda, que na época (2009) carregava a fama recém-conquistada com o EP Green Valley, define o SXSW como uma grande experiência. “Ter participado mudou a maneira como vemos música, mercado e palco”, dizem.

Tendo a passagem pelo Texas como primeira visita ao exterior, os paulistanos estiveram de volta recentemente para uma turnê que passou por algumas cidades do país e pelo Canadá, mais experientes e com a música em uma singularidade mais definida.

Expectativas

Além do Holger, outros nomes da cena independente brasileira também estão arrumando as malas para a terra dos filmes de faroeste. A Rosie And Me e a Some Community, que combinam nos vocais femininos em inglês, são duas que já estão se preparando de todas as maneiras possíveis.

A Some Community, que tem o EP Rino Rino na bagagem, foi atrás dos vistos e dos preparativos legais, e aproveita a oportunidade para fazer uma turnê lá fora, passando também pelo Canadá, no Canadian Music Fest. “As expectativas são sempre uma coisa meio aleatória, mas, ainda sim, são as melhores possíveis”, afirmam.

De Curitiba, a Rosie And Me não esconde o nervosismo. “Nunca participamos de um evento tão grande. Tudo agora exige planejamento e ação”, declara Rosanne.

A sonoridade na qual as duas apostam pode ser um fator que facilitará a assimilação de suas músicas. Isso acontece com frequência no já citado espaço ilimitado da internet, mas vale citar um fator praticamente unânime: veja uma banda ao vivo e conheça como ela é de verdade.

E é nessa levada que elas vão. “Estamos abertos pra qualquer negócio”, declara o Some Community.

Quem estará no SXSW em 2011?


Até então, cinco nomes brasileiros receberam as suas convocações: Thiago Pethit, Tiê, Rosie and Me, Some Community e Holger. Entre os nomes gringos, já figuram nas listas alguns velhos-novos conhecidos do hype, como o Bombay Bicycle Club, que esteve recentemente no Brasil, Toro Y Moi, The Dears, Those Dancing Days e Jon Fratelli, vocalista e guitarrista dos então extintos The Fratellis. Em casa, Erykah Badu também deverá levar seu soul alternativo para o festival.
Confira a lista completa (até então) aqui.
Entrevista com o Bloco do Sargento Pimenta
*por Izadora Pimenta, com a colaboração de Ana Clara Matta

Você é daqueles que odeiam o carnaval? Pois saiba que você ainda deve estar no passado. Hoje em dia existem várias alternativas para quem não curte o tradicional samba-enredo que gruda na cabeça e culmina em apurações pelas vozes retumbantes de locutores, ou então o axé regado a abadá, trio elétrico e coreografias aprovadas pelo Jacaré.
 
Veja só: além das diversas festas alternativas ao feriado nacional, há também quem faça um Carnaval diferente, com serpentinas, marchinhas e músicas que, bem, você pode acabar gostando. É nessa toada que, entre muitos outros, vai o Bloco do Sargento Pimenta, formado por músicos do Rio de Janeiro que resolveram inovar e criar um bloco que só toca Beatles. Isso mesmo, Beatles.

O Rock ‘n’ Beats teve uma conversa rápida com o bloco, que sai às 15h do dia 07 de março no bairro do Botafogo, Rio de Janeiro. Se eu fosse você, carioca sem-viagem e com muito interesse por música boa, sairia de casa para acompanhar. E se você não é carioca, bem, procure não ficar de cara amarrada: também vai ter algo para você, afinal, é Carnaval!


Rock ‘n’ Beats: Como surgiu a ideia de formar um bloco de carnaval inspirado nos Beatles? Beatlemania pura ou uma oportunidade para ousar?

Bloco do Sargento Pimenta: Bom, podemos dizer que foi muito mais baseado na nossa beatlemania, imaginando como seria a junção de dois mundos tão sensacionais como a maior banda de todos os tempos e a maior festa popular do planeta. Mas, com certeza, vislumbramos a grande oportunidade que teríamos ao criar esse bloco!

Rock ‘n’ Beats: Algum dos idealizadores já era ligado com carnaval ou algo do tipo? E, claro, qual o nível de ligação de vocês com os Beatles?

Bloco do Sargento Pimenta: Sempre admiramos e frequentamos o carnaval de rua do Rio e achamos que era o momento de fazer parte dele de fato, com uma criação nossa. Todos conhecem bastante dos Beatles, mas dentre nós alguns são ainda mais beatlemaníacos, conhecendo quase tudo a respeito deles.

Rock ‘n’ Beats: Não é a primeira forma de experimentação com a música dos Beatles. Mas vocês acreditam que tais experiências contribuem para que a música do quarteto de Liverpool ultrapasse cada vez mais as gerações ou, ainda, chegue aos ouvidos de quem geralmente não pararia para escutar?

Bloco do Sargento Pimenta: Com certeza! O público do carnaval não é, necessariamente, o mesmo público que pararia para ouvir Beatles, portanto temos o potencial de criar uma intercessão muito saudável cativando públicos potencialmente diferentes. Estamos recebendo diversos comentários na internet nesse sentido, como “eu não curto carnaval, mas essa eu não perco!” ou “o carnaval de rua não será mais o mesmo depois do Sargento Pimenta”. Certamente é uma maneira de reviver os “fab 4”, ampliando para um público tão diversificado como o do carnaval.

Rock ‘n’ Beats: E, para vocês, qual é o disco mais carnavalesco dos Beatles?

Bloco do Sargento Pimenta: Sgt. Pepper’s Lonely Hearts Club Band, definitivamente!

Rock ‘n’ Beats: Qual a reação do público, no geral? Existem muitos beatlemaníacos reacionários ou geralmente aceitam bem a ideia?

Bloco do Sargento Pimenta: Até agora foram 100% de reações positivas, empolgantes, estimulantes. Ontem fizemos um show no teatro Rival Petrobras para 700 pessoas! O melhor do show, que foi incrível por sinal, foi a reação do público. Todo mundo pulava junto, cantava e se encantava com todas as músicas!
Entendemos e respeitamos aqueles que possam vir a nos criticar. A origem de tudo o que criamos até agora tem como pilares a amizade entre os integrantes e a existência dos Beatles. Portanto, críticas sempre ocorrerão e estamos preparados pra isso. Faz parte do jogo e elas também serão importantes para o crescimento do bloco. É difícil ter unanimidade (nem os próprios garotos de Liverpool conseguiram) e não temos esta pretensão. Tudo o que pedimos é que nos ouçam primeiro antes de nos criticar!

Rock ‘n’ Beats: O Bloco do Sargento Pimenta vai se manter somente no carnaval ou vocês pretendem crescer o projeto?

Bloco do Sargento Pimenta: Estamos ainda estudando todas as possibilidades que nos têm sido abertas e, assim como tudo até agora, conversamos internamente e vamos definir qual será a forma de trabalhar pós-carnaval.

Rock ‘n’ Beats: Quem for acompanhar o bloco dia 7 no Botafogo já pode se preparar para ver e ouvir o que?

Bloco do Sargento Pimenta: Um trabalho sério, feito por músicos e produtores, gerando releituras de músicas dos Beatles adaptadas ao carnaval carioca. All my Loving em ritmo de marchinha; Here Comes the Sun em ritmo de quadrilha e Hard Day’s Night funkeado.

Rock ‘n’ Beats: Qual outra banda daria certo como um bloco, na opinião de vocês?

Bloco do Sargento Pimenta: Desde que feito por pessoas que gostem muito e tenham dedicação, qualquer banda! Mas podemos dar dicas para os nossos concorrentes! (risos)

Quer acompanhar o Bloco do Sargento Pimenta? Anota aí:

Quando: 07/03 (segunda), às 15h
Onde: Rua Visconde de Caravelas, entre as ruas General Dionísio e Capitão Salomão, Botafogo, Rio de Janeiro.
Snow Patrol no Natura Nós
Antes da apresentação do Snow Patrol só se ouvia pessoas cantarolando Open Your Eyes pela Chácara do Jockey. Parecia que vinha aí um efeito parecido com o que o Kings of Leon havia enfrentado há exatamente uma semana atrás no SWU: será mesmo que o público iria escutar apenas uma música e abandonar a pista? 

Negativo. Gary Lightbody, com seu maxilar novo em folha, roubou a cena logo na primeira música do show: Open Your Eyes, por algum motivo. O vocalista jogava todo o seu charme de 96º homem mais sexy da Irlanda (uau!) e não parava quieto. O restante da banda atuava apenas como seu plano de fundo. O guitarrista Nathan Conolly até tentou fazer uma graça, sem muito sucesso. 

Certo de que talvez não fosse o melhor horário e ocasião para o Snow Patrol pisar pela primeira vez no Brasil – e pela última vez em um palco com a turnê 100 Millions Suns, que durou dois anos. Pouco depois, o mesmo Palco Verde receberia o acid jazz do Jamiroquai

Lightbody, hora cantando meio de lado no pedestal, hora se movimentando por todo o palco, deu um jeito de dar gás às canções do indie romântico de sua banda, que ia além do jogo de luzes perfeitamente sincronizado com os acordes executados: utilizou uma fórmula manjada, mas que cativou. 

Ou seja, era no papo clássico de gringo, citando a caipirinha (com direito a um pessoal fazendo coro depois: “Bêbado! Bêbado!”) e confundindo o português com o espanhol que ele fazia a maioria de sua interação verbal com o público. O resto ficava por conta de sua entrega um tanto um quanto cansada, fazendo jus à sua criança de 34 – e não 25 – anos. Entrega cansada, mas que não deixava de ser enérgica. 

É fato que quem queria hit, não pode reclamar do show que o Snow Patrol preparou. Logo depois da primeira música, a banda apareceu com Chocolate, a peça mais tocante de Final Straw, álbum de 2003. E vieram outras também, como Hands Open, Take Back The City, uma emocionante Run e uma interativa Shut Your Eyes. 

Mas um dos melhores momentos veio com Chasing Cars, famosa entre os fãs de seriados por figurar em Grey’s Anatomy. O público se entregou a um coro espontâneo e deixou rolar até depois da música acabar. 
O momento, aliás, foi o ápice da conexão entre público e banda, e o show já se chegava aos momentos finais. Era chegada a hora de escutar um pouco do tango eletrônico do Bajofondo enquanto não chegava a hora da estrela. Ao menos a da noite: Jay Kay, com um cocar, que adentrou aquele palco e apagou de grande parte dos presentes a lembrança de que o Snow Patrol esteve ali. Uma pena.
Entrevista com Stereophonics

Na década de 90 o mundo foi invadido pelo britpop, um movimento formado pelo boom de bandas britânicas que começaram a fazer um tipo de rock fácil de grudar nos ouvidos, daqueles que até a sua avó cantarola, mas carregado de influências de nomes fortes como The Beatles e The Who.

Um dos expoentes desta época é o Stereophonics, que liderado pelo carisma do frontman Kelly Jones, coloca seu complicado sotaque galês como um dos recheios da próxima semana na capital paulista, anotando o nome em uma agitada agenda de shows que ainda conta com o Festival Planeta Terra e abre passagem para um Paul McCartney dominar a próxima.
 
O Stereophonics foi formado em 1992 por Kelly Jones, Richard Jones e Stuart Cable (este último que faleceu recentemente) no País de Gales. Apesar da grande importância para a construção do catálogo na época, a banda só alcançou o sucesso mainstream na década de 2000 . Foi nesta época que Cable deixou a banda e abriu espaço para uma nova formação, de quatro membros, que hoje conta com Javier Weyler na bateria e Adam Zindani na guitarra.


Richard Jones, baixista, que junto com Kelly compartilha a formação original do Stereophonics e o sobrenome (mas sem nenhum parentesco), conversou com o Rock ‘n’ Beats por telefone na última sexta-feira sobre a relação da banda com os fãs, o álbum mais recente da banda, Keep Calm And Carry On, a apresentação no Brasil, a longevidade e o britpop, que segundo ele, “não irá desaparecer”. Confira!

A relação com os fãs

"O Stereophonics possui um twitter oficial (@stereophonics), e acredito que a Internet é um ótimo meio para se comunicar com os fãs", revela Jones.
Mas ele ainda confia em métodos  mais conservadores: “Acho que as lojas de discos continuam nos conectando a eles [aos fãs]”. No site oficial, os membros também costumavam manter um blog, mas este não recebe atualizações desde o mês de março.

Keep Calm And Carry On
A banda lançou no ano passado o álbum Keep Calm And Carry On, que conta com hits certos como I Got Your Number e She’s Alright e embasa a turnê que passa por aqui. Mesmo com tantos lançamentos recente e o número de bandas novas no mercado e na mídia, Jones parece preocupado apenas com o seu grupo.
"A banda não se preocupa com a concorrência de novos artistas, já que eles podem estar criando apenas "novas tendências, novas gravações". E o Stereophonics também pode fazer isso. E isso vem de fazer música e aproveitar o que se faz”, afirma.

Longevidade
Quando questionado sobre a longevidade da banda, e se esta pode chegar a um nível meio “Rolling Stones” da coisa, o baixista, não se mostra preocupado. "Hoje na música não existem pessoas velhas. O Stereophonics quer continuar “só tocando e provando isso ao público”.
Mas no que diz respeito a comparação com a trupe arruaceira de Mick Jagger e Keith Richards... “Talvez seremos uns velhos um pouco diferentes”, brinca.

Britpop
"O britpop é um movimento “que não vai desaparecer”, já que tudo o que foi construído durante os anos 90, o grande boom do estilo, ficou para a história, e continua influenciando várias bandas que começam os seus caminhos hoje", decretou o baixista.
Pegando carona nas palavra de Jones, pode-se dizer que o Stereophonics é um dos grandes sobreviventes do furor da década, mas também é um dos grandes expoentes desta nova geração. “A banda construiu e constrói uma grande coleção que não ficou só por lá”, completou.

Brasil
Não fugindo de um clichê, ele carrega grandes expectativas para a apresentação brasileira. “Nós sabemos que o público brasileiro é bastante receptivo, e esse pode ser um grande diferencial [em relação aos outros países pelo qual a turnê passou]”.

Apresentando Keep Calm And Carry On, carregado de hits que revisitam o britpop com um toque discreto dos anos 2000 como She’s Alright, Uppercut e I Got Your Number, a banda também não deixa de lado seus maiores hits, que são inúmeros, talvez dando até uma maior visibilidade a estes. Have a Nice Day, Dakota e The Bartender & The Thief vêm figurando em grande parte dos setlists recentes, e a banda andou até arriscando um cover de The Kinks, com Sunny Afternoon.

Quem sabe não rola por aqui também?


Ficou curioso e quer conferir a banda ao vivo? O Stereophonics se apresenta por aqui no dia 18 de novembro, na casa de shows Citibank Hall, em São Paulo. Os ingressos disponíveis custam de R$100 a R$200 e podem ser adquiridos pela Tickets For Fun.
Resenha Paul McCartney no Morumbi 21/11

Há uma eterna incógnita que paira desde que John Lennon declarou que os Beatles eram maiores do que Jesus Cristo. Não há quem se atreva a responder com a mesma certeza e altivez por temor de algum julgamento social, mas é fato - e isso até os religiosos mais fanáticos devem concordar - que o quarteto de Liverpool também conseguiu arrastar seus fieis ao longo dos anos (já se foram quarenta desde o fim do sonho) e conquistar novos a cada minuto que passa. "Ele ama o Paul", disse a mãe de um menino de nove anos no banheiro feminino do Estádio do Morumbi, poucas horas antes da tão aguardada primeira apresentação de Paul McCartney em São Paulo.
 
São Paulo que virou, por um dia, a capital beatlemaníaca do Brasil, com diversos sotaques espalhados, pronunciando o nome do ídolo e de suas músicas de maneiras diferentes e originais. Palco também de um encontro incrível de gerações, todas portando o mesmo sentimento, a mesma devoção. De sósias, de fantasiados e até de alguns mais radicais, como um pessoal que fazia protesto pela Segunda Sem Carne, campanha difundida por Paul. E no que isso resultaria?

Resultou em coros arrepiantes e lágrimas incontroláveis ao longo das três horas de apresentação. Todos comandados por cada movimento do eterno beatle, que, não é nem novidade dizer, fez uma performance já prevista, mas que seja: Macca tem as mãos de ouro, pode transformar qualquer coisa em algo inesquecível.

O show redondinho que traz homenagens a John Lennon, a George Harrison e a Linda McCartney se estendeu por toda a Up And Coming, turnê que tem seu fim hoje, na segunda deixa para São Paulo. Mas tudo, aparentemente, se torna diferente quando se faz parte de um daqueles pontos na plateia, respondendo às mensagens que Paul emite em inglês ou em um português copia-e-cola macarrônico.

Vestindo um elegante terno azul e empunhando o lendário baixo Hofner para canhoto, Paul abriu, como na apresentação em Porto Alegre, com Venus and Mars/Rock Show, duas músicas do Wings que se completam e formam uma trinca perfeita com Jet para um início arrepiante que convida todos a se anexarem, da maneira que puderem, ao palco. Passeando pelas suas diversas fases com All My Loving, Letting Go, Drive My Car, Highway e Let Me Roll It, foi em The Long And Winding Road, do póstumo Let It Be (1970), que as primeiras lágrimas começaram a inundar o estádio. E Paul, sorridente e incansável, não tinha piedade de ninguém: logo depois veio Nineteen Hundred and Eighty-Five e a intensa Let 'Em In.

As homenagens começaram em My Love. "Eu escrevi esta música para a minha gatinha Linda, mas esta noite ela é para todos os namorados", disse, em português, exatamente como na capital gaúcha, engatando uma sequência apaixonada: I've Just Seen a Face e And I Love Her, músicas do Fab Four que foram cantadas por grande parte do público. E se os beatlemaníacos já estavam em transe, Blackbird e suas linhas capazes de amolecer o mais duro dos corações adentraram o Morumbi. E tome, tome mais: foi a vez da primeira homenagem para John Lennon, com a soluçante Here Today, que sempre está ali, em respeito à amizade dos dois beatles.

O bandolim e Abe Laboriel Jr., baterista de Paul McCartney, deram um tempinho no momento fossa com Dance Tonight, do Memory Almost Full (2007). Enquanto todo mundo se divertia cantando, Abe fazia suas esperadas dancinhas na bateria, passando até mesmo por referências a Os Embalos de Sábado a Noite. Até o Sir acabou dando uma dançadinha. E veio a hora de entoar o "Ho, hey-ho!" de Mrs. Vanderbilt, música do clássico Band On The Run, que continuou até depois de a banda parar de tocar.

Mas parece que foi só para quebrar o gelo: Eleanor Rigby, música que dispensa apresentações e Something, homenagem inebriante a George Harrison em uma versão estendida e acelerada desta que é uma das melhores canções de amor de todos os tempos, trouxeram as lágrimas de volta.

Quando se pensa que o show pode esfriar, com Sing The Changes, música do pouco conhecido projeto The Fireman... ledo engano: Band On The Run, Ob-la-di Ob-la-da, Back In The USSR, I've Got a Feeling, Paperback Writer. Um paraíso beatlemaníaco. Então vem ela, a curiosa, bifásica, lendária e alucinógena A Day In The Life, na qual o público começara a sacudir os balões brancos que foram soltos durante a emenda com Give Peace a Chance, de John Lennon, formando um dos momentos mais incríveis - se é que é possível escolher um - da apresentação, já que todas as sessenta mil pessoas colaboraram para que eles (que não chegavam a mil) sobrevoassem por todo o estádio.

De sorriso bobo, tendo feito quase duas horas de apresentação sem parar para tomar uma água, no alto de seus sessenta e oito anos, Macca sentou-se ao piano e continuou a emoção com Let It Be, embalada por isqueiros e luzes de celular. Uma pausa para um momento megastar com Live And Let Die, na qual fogos de artifício saíam dentro do palco e fora dele, sincronizados com os instrumentos - só para representar visualmente o que já estava nos corações de cada um ali. Quer mais? Hora de pegar o isqueiro de novo: Hey Jude. A música mais singalong de todos os tempos entoada na presença de seu autor. Só os homens. Só as mulheres. Todos juntos. E foi assim que a banda deu as mãos, agradeceu e saiu do palco...

...e logo depois voltou com Day Tripper, um single dos Beatles com linhas roqueiras que fez as pernas cansadas de todos ali voltarem a pular. Dali foram só as músicas de suas origens... E tome Lady Madonna e Get Back. A banda dá as mãos, agradece, sai do palco e volta: Yesterday. A música mais regravada da história da música parecia ser a letra que mais estava na ponta da língua de todos os presentes, em um coro arrepiante, atemporal. Talvez fosse um sonho - como a origem da inspiração de Macca para esta. E Helter Skelter, ao invés de acordar, levou a um devaneio psicodélico.

Hora de acordar, só com a banda do Sargento Pimenta. A reprise da faixa título do álbum que revolucionou a história, conectada com The End (Abbey Road, 1969), deu fim ao sonho que, na verdade, não acabou:  ele só começou a tornar forma.

Paul McCartney é do tipo que só parece humano quando leva, por exemplo, um tombo enquanto passeia pelo palco ao fim do show. Mas, afinal, o que  o derrubaria? Paul, São Paul, como brincou o guitarrista/baixista Brian Ray no twitter - uma divindade, mesmo. O cara é canhoto, usa suspensórios, mas tem o poder de fazer até os homens chorarem sem que estes sintam vergonha de assumir que o fizeram.
E se o representante dos Beatles na Terra (Ringo que me perdoe) é maior que Jesus Cristo... basta dizer que ele atende com muito amor - pela música, por tudo o que fez e o que faz - a todos os seus fieis. It's only love. A certeza fica de cada um.
 
Resenha: "Feito Pra Acabar" e a tendência popular única de Marcelo Jeneci

Estamos com fome de música boa que não precise de grandes interpretações ou garimpos. Estamos com saudade de ligar o rádio e ouvir palavras para assimilar para a posteridade - e não somente one hit wonders que parecem ser substituídos por outros ao longo das semanas. Estamos precisando de quem fale de amor em sua forma mais brega, com o objetivo real de alcançar as massas, mas antes se preocupando com cada milímetro do material que irá chegar até nós - música limpa, agradável, sem gritar por preenchimentos dos clássicos derererês, ôôôôôs e lalalalalas. E em se tratando de música, Marcelo Jeneci é um cara que viajou o mundo e perdeu o álbum de fotos. Em Feito Pra Acabar, ele tenta contar para a gente o que aprendeu com isso e como foi, de uma forma não-linear, mas não menos fascinante.
 
Jeneci faz música de amor mesmo. E ponto final. Tá tudo aqui: os astros, a chuva, as promessas, as separações, as exaltações, as metáforas safadinhas - a temática constante da fusão do ser, das relações duradouras, tudo o que costumava ser mágico e embalar com graça a grande parte dos romances. O paulistano chega com um trabalho com potencial para ser tão popular quanto o último capítulo da novela das oito - território no qual, aliás, uma composição sua já reinou (Amado, na voz de Vanessa da Mata). Em tempos nos quais os grandes hits são permeados por rótulos e agitações, não existe uma definição concreta para classificar suas treze músicas. É uma quebra total de barreiras de alguém que já foi até mesmo pagodeiro, é música sem preconceito em plena era das guerras digitais.

Não que Jeneci seja uma espécie de Jesus que veio para salvar a todos nós desta segregação sem sentido - ele é só parte de uma geração de poucos que ousam, mesmo que inconscientemente,  dar um passo. Feito Pra Acabar é a evolução do clichê, um jeito sincero de dar sua palavra com graça, musicalidade, um casamento ao ar livre entre a música boa e a música que os que consideram tal música boa acham ruim, e vice-versa.

Jeneci faz títulos e versos bregas, e canta com uma voz calma que pode ser vista tanto em Guilherme Arantes, ao qual é constantemente comparado sem ter a intenção, quanto em Salgadinho, vocalista do grupo Katinguelê, do qual Jeneci declarou ter sido fã e ainda achar uma música linda - Recado à Minha Amada. Estranho? Não, isso é diferente a ponto de ter de ser comemorado: a absorção plena de milhões de influências concentradas em algo que, no fim, soa único.

Felicidade, a faixa que nos apresenta Jeneci, parece até meio bobinha. E talvez seja bobinha mesmo. Mas só sendo um insensível daqueles para não abrir um sorriso ao ouvir seus arranjos e vocais delicados, estes últimos por conta do cantor e de sua parceira musical, Laura Lavieri,  e para não continuar com vontade de saber o que vem por aí. E este tal "aí" infelizmente marca um dos únicos pecados: a enjoativa Jardim do Éden logo na segunda faixa, que deixa a falsa impressão de que o álbum inteiro seguirá a sua toada. Certo. Um Copo D'Água lava tudo isso.

Um rock nada convencional. A sanfona de Jeneci leva ao passado a letra, uma das várias feitas em parceria com o mentor Arnaldo Antunes, que expõe exatamente o oposto. A história de uma relação onde o casal já está completamente ligado e sabe tudo um do outro. E, vejam só, eles não estão somente juntos na vida real: ele está lá, no orkut, no e-mail, no skype, no MSN da moça, coisa fácil de situar à nossa realidade virtual e ver a historinha se passando à volta. E então Café Com Leite de Rosas, outro rockzinho peculiar, parece se conectar à ela, com toda a sua simplicidade e trocadilhos deliciosos de se escutar.

É então em Quarto de Dormir que podemos ver claramente a genialidade de Jeneci. Todos os espíritos dos bregas românticos, Roberto Carlos e seus cafés da manhã para nós dois, uma belíssima orquestra. Música que o vizinho poderia fazer, como disse o maestro Chiquinho de Moraes, que recusou a responsabilidade de assumir o trabalho magistralmente regido por Arthur Verocai. E daí? Se o vizinho poderia fazer uma melodia dessas, é porque é essa melodia que o vizinho quer ouvir. É o cafona banalizado por rimas pobres feitas em cinco minutos que volta à tona em um formato trabalhado.

Talento que mostra que o estilo não é só para quem não sabe fazer música, também presente na próxima faixa, a quase sertaneja Pra Sonhar, um dueto harmonioso de Jeneci e Lavieri em um pedido de casamento embalado pela sanfona, uma declaração de amor exacerbada com sensibilidade, rimas simples combinadas com muito cuidado, tudo isso para preparar-nos para a chegada de Por Que Nós.

Por que nós? Porque nós nunca entendemos e nunca iremos entender, mas o tempo nos colocou juntos e fez com que fôssemos nós. A composição retrata a história de qualquer casal - aqui poderia, por exemplo, entrar o mocinho e a mocinha da novela. Fala dos compartilhamentos das dúvidas, das ideologias retardadas, do egocentrismo em conjunto, da construção de um tempo único que mede um momento propício, que pode se acabar a qualquer momento, mas nunca deixará de ter, um dia, retratado nós. Um grito urgente para as relações que patinam para encontrar uma composição nos tempos atuais que possa ser adotada como sua música-tema.

Dar-te-ei, a oitava faixa, foi o que fez com que eu me apaixonasse por Jeneci no início deste ano. Fazia tempo que não ouvia uma canção de amor com tanta inocência e graça. Simples, apesar do trabalho na mesóclise, na qual não se promete nem luas, nem sóis, nem anéis de diamantes nem  compara a pessoa amada a um meteoro da paixão: somente se promete a si mesmo. E há algo melhor para a construção de um amor?

Logo entra Longe, com uma roupagem campestre semelhante à que embalou a novela Paraíso na voz do cantor Leonardo, mas agora é Lavieri que se encarrega de dar a graça balada sobre a distância que incomoda as relações desgastadas, ou então, interrompidas, e sem o tom enjoativo da segunda faixa. Tempestade Emocional mistura a desilusão em uma metáfora perfeita para alguém nascido e criado na cidade de São Paulo, já que pega tudo o que se conhece muito bem de dois assuntos e os une. "Vai chover, vai chover desilusão. Vai chover, vai chover, vai chover dor". Deliciosamente  - mais uma vez e contando - brega. Pois brega também é  Show de Estrelas (olha o nome disso!). Outra metáfora brega e verdadeira.
Daria até para utilizar em uma sessão de autoajuda, mas que foi tratada com cuidado - lembrando que também temos toda a mágica do produtor Alexandre Kassin no trabalho - para encaixar com todo o resto.

O álbum toma seu final em Pense Duas Vezes Antes de Esquecer, meio Mutantes, meio toda a onda da tropicália, uma graça que resgata a temática de Copo D´Água e insiste para que a pessoa amada olhe para trás e veja tudo o que fez com que eles se conectassem. Mas tudo isso é a deixa para Feito Pra Acabar, faixa título que encerra impecavelmente essa estreia. Com um pouco mais de sete minutos, discorre de maneira tocante sobre a efemeridade do ser humano - e a orquestra mais uma vez toma conta de nossos ouvidos e corações.

Feito Pra Acabar se faz ao todo uma celebração de tudo o que queremos ouvir,  equilibrado à tal maneira que nem as tendências e nem mesmo o mainstream - que ele tanto almeja - podem derrubar. E é praticamente impossível não reforçar a ideia de que a música de Jeneci não se limita a somente um dos sentidos. Ela os ultrapassa.
O Toque Feminino no segundo dia de SWU
*por Izadora Pimenta e Talita Bristotti

O início de noite no SWU foi recepcionado por duas mulheres de diferentes estilos, que doaram todo charme à historia do festival: no Palco Ar, às 18h50, a doce Regina Spektor encantou a todos com seu piano. Logo depois, às 19h56, Joss Stone e seu soul requintaram um palco no qual grande parte do público já tentava garantir um bom lugar para assistir Kings of Leon.
 
Regina começou suave, com a maioria das músicas pertencentes ao seu último álbum, Far, e provou que é uma musicista completa. Alternando entre melodias simples e complexas, mostrava seus talentos como instrumentista e intérprete, que combinavam perfeitamente com suas conhecidas composições, que geralmente tratam de ideias corriqueiras. Mas, em sua primeira visita ao país, disse que prefere voltar quando estiver mais calor, já que o frio também esteve presente no segundo dia de festival.

O clímax do show de Regina aconteceu no momento que já era previsto: com Us, música presente na trilha sonora do filme 500 Dias Com Ela. Mas foi com Fidelity, carro-chefe da russa, que a apresentação chegou ao topo. E infelizmente, também ao final.

Menos de cinco minutos após a apresentação de Regina SpektorJoss Stone já chegava ao Palco Água com sua voz potente e backing vocals com passinhos coreografados, mas em um show sem muita pretensão.

No meio da apresentação, a inglesa ganhou uma bandeira do Brasil assinada por alguns fãs, e amarrou em seu microfone, deixando-a ali até o fim, embalado por balada Right To Be Wrong. Mas a canção que a antecedeu, Fell In Love With a Boy, sua famosa versão de The White Stripes, foi a que mais animou o público, que já esquentava a voz para as deixas de Dave Matthews Band e Kings of Leon.


Fica a dúvida se as duas cantoras mereciam uma apresentação mais intimista, em um palco pequeno que comportasse todas as pessoas que realmente gostariam de assisti-las. Mas, sem sombra de dúvidas, o toque feminino foi essencial para acalmar os ânimos do público, que antes via Sublime With Rome.
AIR no Natura Nós, 16 de outubro de 2010

Depois de uma chuva ter inundado a Chácara do Jockey, Céu abriu o céu e o céu escureceu, abrindo passagem para o Air levar toda a sua elegância blasé eletrônica para o Palco Verde às 19h – anunciado por um enorme letreiro luminoso atrás do palco. Era o início de uma sequência matadora no Natura Nós.
Já era de se esperar que Nicolas Godin e Jean-Benoît Dunckel aparecessem com seus trajes engomadinhos – camisas sociais brancas no corpo e nos trejeitos, se é que fica claro. Mas talvez não fosse esperada a boa recepção do público logo na primeira música, Do The Joy, que faz parte de Love 2, o último trabalho do duo.

Acompanhados pelo baterista Alex Thomas, acabaram, na verdade, por liderar uma viagem psicodélica meio iDoser, a droga virtual baseada em  ondas binaurais que foi hit em 2007: a diferença é que a dos franceses realmente fazem efeito. Raramente algo foi cantado ou falado – até mesmo alguns agradecimentos foram feitos por meio de vocoders.

O significado da sigla que os nomeia, Amour, Imagination, Rêve (Amor, Imaginação, Sonho) acabou por se fazer presente na plateia, que se entregou às sensações interessantes causadas por outras músicas do trabalho mais recente, como Love, Tropical Disease e Be a Bee, e também pelo álbum Moon Safari.

O tiro certeiro veio com Sexy Boy, um dos hits do duo, e foi um caso a parte. “Vocês estão prontos para serem sexies?” – perguntou Godin. O público não respondeu verbalmente, e sim durante a execução. Vários pareceram  querer incorporar o espírito da música, e a área premium, com espaço de sobra, transformou-se em uma pista de dança.

O final ficou por conta de La Femme D’Argent. E que final: os efeitos de luzes combinados à música foram de deixar todos os sentidos zonzos. E a última sensação foi a de que o tempo não devia passar tão depressa assim.

A apresentação pode ter decepcionado quem resolveu assistir a banda esperando com que algo da trilha de As Virgens Suicidas figurasse no setlist, mas os franceses não deram vez aos fãs de Sofia Coppola. O Air, por fim, fez um show redondo, sem grandes surpresas, combinando com o festival que, apesar de ter muita lama, não tinha nada a ver com Woodstock.
Há dez anos começava o terceiro Rock in Rio
*por Davi Rocha e Izadora Pimenta



Há dez anos atrás, o lendário Rock in Rio ocupava pela segunda vez a Cidade do Rock, mas já não encontrava a mesma realidade de seu pioneiro. Eram os primeiros dias do terceiro milênio, e as barreiras entre os países, a cada vez mais, pareciam ficar somente no mapa-múndi – a Internet começava a invadir a casa dos brasileiros.

A música também mudara. Os vinis haviam sido substituídos pelos CDs, que, por sua vez, já começavam a ser ameaçados pela sedução do download gratuito e ilegal. No Brasil, as bandas definiam suas identidades. Os Paralamas do Sucesso, novatos na edição de 1985, já estavam consagrados.

Assim como tudo, o Rock in Rio não poderia continuar igual. Pela primeira vez, além do palco principal (chamado de Palco Mundo), o evento teve quatro tendas alternativas, que traziam opções aos grandes headliners do evento: a Tenda Eletrônica, Tenda Brasil (música brasileira), Tenda Raízes (música africana) e Tenda Mundo Melhor (world music).

E foi com o mote “Por Um Mundo Melhor”, que, no dia 12 de janeiro de 2001, a Cidade do Rock abriu suas portas novamente. Seguindo o tema proposto, às 19h daquele dia o Brasil inteiro parou para pensar. Pelo menos, três mil rádios e 552 TVs ficaram em silêncio por três minutos. Mas depois do silêncio, veio o barulho, feito durante sete dias por mais de cem atrações.

Números dignos de um grande festival
Uma coisa que não mudou: os números gigantescos. Ao todo, um milhão e 235 mil pessoas estiveram presentes ao longo dos em sete dias, o que gerou 100% de ocupação dos hotéis no Rio de Janeiro e crescimento de 28% das viagens internacionais na cidade, com geração de 14 mil empregos diretos, e audiência estimada em 50 milhões de pessoas durante a exibição do festival na TV.

Ô Anna Julia...

Enquanto Oasis, Red Hot Chilli Peppers, Foo Fighters, Guns ‘n’ Roses, REM, Sting, Neil Young, Beck e Silverchair eram as atrações principais do Palco Mundo, o grande show da Tenda Brasil foi feito uma banda de cariocas que, na época, apresentava, além do grande sucesso Anna Julia, seu novo trabalho, o álbum Bloco do Eu Sozinho, e em breve sairia das rádios e viraria ícone na música independente brasileira.
O Los Hermanos lotou a Tenda Brasil numa tarde de domingo, 14 de janeiro, com toda a plateia cantando a plenos pulmões o grande sucesso daquele verão. Críticos apontaram na época que eles deveriam até ter tocado no Palco Mundo. Eles estavam certos. A banda, de um jeito peculiar, cresceu tanto que mesmo depois de muito tempo em hiato, apareceu em um dos palcos principais do recém-chegado SWU, no ano passado.

No mesmo dia a tenda ainda trouxe como destaque a performance percussiva da Nação Zumbi e o repertório clássico do rock nacional dos anos 80 cantado por Sylvinho Blau Blau e os Pelúcias, que teve participação memorável do roqueiro Serguei.
Ali a música brasileira conquistava, mesmo que tímida, o seu espaço, sem vaias ou copinhos descartáveis, mas ainda longe dos grandes que causavam furor.

Pop toma conta do Rock in Rio

Em todos as edições o festival usou o rock no nome como carro chefe, mas nunca deixou de abrir seu line up para outros gêneros musicais. Os nomes que passavam longe do estilo já iam de Elba Ramalho, passando por George Michael e chegando até ao fenômeno pop New Kids On The Block.

Em 2001, porém, o pop apareceu com força. Uma noite inteira dedicada foi ao gênero com nomes que, na época, não saíam das estações de rádio, dos canais de videoclipes e da ponta da língua: Britney Spears, Five, N’Sync e a dupla Sandy & Junior. E mais: o Palco Brasil ainda recebia neste dia o cantor Vinny, que fez sucesso com sua Heloísa, Mexe a Cadeira, o SNZ, grupo formado pelas filhas de Baby do Brasil, o LS Jack, donos da one hit wonder Carla, e os irmãos do KLB.

O rock ficou apenas no nome do evento. As performances de Britney Spears e Sandy & Junior ficaram marcadas pelo uso de playback e por seus atrasos, que ocorreram devido a montagem dos palcos.

Como o Brasil assistiu na  TV

Enquanto um milhão de pessoas foram ao Rio de Janeiro, muitas outros milhões gostariam de ter ido, mas tiveram que acompanhar os shows pela TV.
A mesma TV Globo que transmitiu as outras edições foi a responsável por um compacto dos melhores shows do dia toda noite, apresentado pelo ator Márcio Garcia. Quem tinha TV a cabo podia assistir os shows na íntegra na extinta Directv, que transmitia todos os shows ao vivo em cinco canais diferentes, um para cada palco.

O que não ficou bem, de acordo com a censura e os bons costumes da família brasileira, foram as partes dos corpos dos músicos exibidas na TV. Isso porque, talvez graças ao calor do verão brasileiro, o baixista Nick Olivieri, do Queens Of The Stone Age, resolveu subir no palco vestindo apenas seu instrumento musical. O rapaz acabou sendo detido pelo juizado de menores e levado à delegacia, mas foi solto no mesmo dia.

Cássia Eller não ficou nua, mas resolveu mostrar seus seios para o público, e ainda teve a honra de acordar o vocalista do Foo Fighters, Dave Grohl, de seu sono pré-show. Ele estava dormindo quando Cássia começou a cantar o clássico do Nirvana, Smells Like Teen Spirit. A esposa do músico o acordou para que ele ouvisse, o que declarou ser um dos melhores covers de Nirvana de todos os tempos. Além deste cover, a cantora que morreria ainda naquele ano também tocou sua versão para Come Together dos Beatles, e contou com a participação de seu filho Chicão na percussão em um show memorável.

Veja Cássia Eller cantando Smells Like Teen Spirit no Rock in Rio
Primeiro Rock in Rio
*por Davi Rocha e Izadora Pimenta

Já dizia a profecia de Nostradamus: em janeiro de 1985, uma tragédia mataria milhares de pessoas  durante um evento que reuniria muitos jovens na América Latina. Logo, as suspeitas foram apontadas para o visionário Rock In Rio, o primeiro grande festival de rock do Brasil, sediado em uma das cidades mais famosas do mundo.
 
Alguns até caíram na história do mesmo que previu milhares de vezes o fim do mundo, deixando de conferir performances históricas, ou mesmo proibindo seus filhos de fazê-lo. Mas para a maioria, a paixão pela música falou mais alto. “Um coroa muito gente boa [entusiasta da profecia] fez de tudo para me convencer a não ir. Mas se eu tivesse que morrer, morreria assistindo o festival”, conta o advogado Haroldo Dantas, que frequentou quatro dos dez dias da edição e se gaba por ser uma das vozes que acompanhou o Queen no histórico coro registrado na Cidade do Rock.

Dantas e as milhares de pessoas, porém, mostraram mais uma vez que o profeta estava errado, saindo de lá propagando um dos slogans mais conhecidos do festival na ponta da língua: “Eu Fui”.

O primeiro grande festival do Brasil

Atualmente, não é difícil ir a um festival de música no Brasil. Existem muitos, com as mais variadas estruturas e gêneros musicais. Só em 2010, tivemos desde os grandes SWU, Planeta Terra e Natura Nós até os independentes que pipocam por todo o país. Alguns, extintos, também já marcaram época, como o Tim Festival, responsável por trazer nomes como Julian Casablancas e seu Strokes, e o Hollywood Rock, que deu palco a uma histórica e bizarra apresentação do Nirvana. Mas talvez nenhum deles teria se aventurado da mesma maneira se o Rock In Rio não tivesse dado o ar de sua graça.

“Foi o nosso primeiro grande festival. Só isso já bastaria para entrar na história”, como sintetiza Marcelo Costa, editor do Scream & Yell. Mas a situação em 1985 era bem diferente da qual nos encontramos hoje: o país estava acabando de se livrar do fantasma da ditadura militar, a realidade econômica era bem diferente e a América Latina inteira passava longe da rota dos shows dos grandes artistas internacionais.

De repente, 14 atrações nacionais e 15 internacionais aportavam de uma vez só na Cidade do Rock, construída em um terreno de 250 mil metros quadrados na Barra da Tijuca. No espaço, além do palco, dois shopping centers com 50 lojas, dois centros de atendimento médico e uma loja do McDonald’s (que entrou para o Guiness Book, por vender 58 mil hambúrgueres em um único dia).

Na época, a expectativa criada em torno do Rock in Rio era enorme. “Todo mundo queria estar lá, com aquele bocado de matérias toda hora aparecendo na TV, no jornal, aquilo criava uma expectativa imensa. Era um lance de querer participar – sentimento que carrego até hoje nos festivais que vou: quero participar. Aliás, todo mundo queria participar”, conta Fernando Lopes, 37 anos. “Foi incrível. A Cidade do Rock era uma arena gigantesca com um público o mais diverso que se pode imaginar, desde a “turma da pesada” até casais de namorados. Foi o encontro de tribos mais pacífico que já presenciei até hoje”, completa o jornalista Ney Motta, de 45 anos.

E tudo começou com um público de 380 mil pessoas, daquelas muitas que seguiam as tendências do momento, com seus mullets e ombreiras. Elas usavam luvas verdes fosforecentes às seis horas da tarde da sexta-feira, 11 de janeiro, quando o ator Kadu Moliterno, escolhido para ser o apresentador, deu início a tudo aquilo.  E quem teve a honra de batizar o palco foi o performático Ney Matogrosso, um brasileiro no meio de um cenário que, quase que de forma homogênea, ainda não acreditava na música nacional.  “Eu previa uma vaia estrondosa de todos os metaleiros que estavam ali para assistir ao Iron Maiden. Foi um rebuliço geral, ao mesmo tempo que vaiavam ele, gritavam como vitoriosos. Quando o Ney subiu no palco, cantou a primeira música. Trocou de roupa lá mesmo no palco, cantou a segunda, a terceira e daí em diante e a galera respeitando ele, eu pensei ‘mas não é que nós metaleiros somos muito educados mesmo’”, conta Motta.

A ditadura acaba no Brasil, mas se mostra na música

Na quinta noite de Rock in Rio, o Brasil não era mais um país governado por militares: naquele dia acontecera a eleição indireta do civil Tancredo Neves para o cargo de Presidente da República. Enquanto isso, o primeiro show daquela noite na cidade do Rock era um verdadeiro desafio para a nascente democracia brasileira. A plateia de metaleiros, que esperava os shows de AC/DC e Scorpions, teve que assistir aos shows de Kid Abelha e os Abobóras Selvagens e Eduardo Dusek (usando roupa de clown). Ambos foram ferozmente vaiados pelos camisas cinzas, que chegaram a jogar pedras no palco. Dusek revidava: “Eu estou com a maioria. As pessoas que estão jogando coisas no palco têm mais é que ser linchadas. Se você é negativo, porque vir a um festival de rock? Fique em casa e se suicide que é melhor!”.
A realidade de um cenário que, infelizmente, ainda guarda os seus resquícios até hoje. “O público brasileiro não está pronto para a diversidade artistica. O brasileiro não está pronto nem para se aceitar como um povo com várias faces”, aponta Costa. A democracia só foi verdadeiramente celebrada na voz de Cazuza, que celebrou dois shows mais tarde o fim da ditadura no encerramento do show do Barão Vermelho, com a canção Pro Dia Nascer Feliz.  “Que o dia nasça feliz amanhã pra todo mundo! Um Brasil novo, uma rapaziada esperta” (com o característico sotaque carioca), desejava.

No dia seguinte, Hebert Vianna, que ainda era uma revelação com os Paralamas do Sucesso, pediu: “Se não gostam de quem está tocando, fiquem em casa aprendendo a tocar. Quem sabe no próximo vocês não estão aqui em cima?”, em defesa do acontecido com Kid Abelha e Dusek. Na mesma noite, Lulu Santos reclamaria ainda do tratamento especial dispensado aos americanos. Sem cantar o clássico Como Uma Onda, ele termina seu show falando: “os americanos querem que eu acabe”.

Cheiro do ambiente
Tudo isso, por mais emocionante que pareça ser, aconteceu em um mar de lama.  Isso porque a partir do segundo dia choveu tanto que o gramado da Cidade do Rock se transformou num grande lamaçal. Com o passar dos dias, o cheiro de lama se misturou com urina e 1,6 milhão de litros de cerveja Malt 90 (chamada na época de Malt Nojenta), a oficial do festival, formando um dos cheiros mais característicos da história.

A lama, não tão aproveitada quanto a do clássico Woodstock de ‘69, era tanta que o livro escrito pelo publicitário Cid Castro sobre esse primeiro Rock in Rio recebeu o título de Metendo o Pé na Lama.


O maior show e cachê do Rock in Rio

O show mais visto do Rock in Rio I no mundo foi o do Queen de Freddie Mercury. Enquanto 250 mil pessoas cantaram Love of My Life em coro, 250 milhões assistiram ao show pela televisão, em todo mundo. Até a MTV americana transmitiu.

Pode-se dizer que o Queen foi um dos responsáveis pelo sucesso do Rock in Rio. A banda foi a primeira grande atração a confirmar presença na Cidade do Rock, e só depois deles os demais artistas internacionais passaram a confirmar presença no festival. Não à toa, eles ganharam o maior cachê, que foi de 600 mil dólares.

“Foi só depois dali que a gente virou profissional”

A partir do Rock in Rio, o rock brasileiro começa a se profissionalizar, tentar fugir um pouco dos padrões gringos e se adaptar a uma realidade. A maioria das bandas ainda era muito inexperiente, não acostumada aos eventos e grandes estruturas profissionais. E não só as bandas:  os técnicos de som também passaram a entender melhor como funcionava a estrutura musical e profissional necessária para a operar em grandes shows.

Em entrevista à Revista Bizz na época, Guto Goffi, do Barão Vermelho, lançou a seguinte declaração: “Os artistas da MPB eram relapsos em relação à qualidade dos equipamentos. O Rock in Rio ajudou a mudar isso”. Paula Toller (Kid Abelha), também à Bizz, confessou: “Foi só depois dali que a gente virou profissional”.

Ingresso

Um ingresso para um dia do Rock in Rio I custou de 16 a 28 barões. Quem comprou em outubro de 1984, quando começaram as vendas, pagou 16 barões, em novembro, pagou 18 barões, em dezembro 20. Em janeiro custou 28. Um barão era o equivalente a mil cruzeiros. Eles eram vendidos no extinto Banco Nacional.

1985

E 1985 estava apenas começando. Naquele mesmo ano, morreria Tancredo Neves, Mikhail Gorbatchev assumiria a URSS, Ultraje a Rigor e Legião Urbana lançariam seus primeiros álbuns, Ayrton Senna ganharia sua primeira corrida, o clássico We Are The World chegaria às lojas, seria realizado o Live Aid e estrearia a série Armação Ilimitada na TV Globo, que tornaria Kadu Moliterno ainda mais famoso. Mas, no entanto, gente como Queen, Iron Maiden, Whitesnake, Nina Hagen, Rod Stewart, Scorpions, Ozzy, AC/DC, Yes, Go Go’s e B52’s já havia matado a imensa sede de atrações internacionais, pelas quais o Brasil clama cada vez mais – e hoje é atendido com precisão.
 
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Reportagens, resenhas e entrevistas feitas por Izadora Pimenta

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