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o tempo perguntou ao tempo...

... quanto tempo o tempo tem”. É à espera que o tempo passe que tudo o que é significativo ou importante acontece. O tempo passa por nós e leva consigo todos estes acontecimentos e momentos, que assim não são valorizados e acabam por ser esquecidos na nossa linha temporal. Numa sociedade inerentemente ligada ao ritmo neoliberal de produção e consumo, à perceção do tempo das coisas como algo imediato e momentâneo, faz falta um espaço (ou um tempo) para a nossa reflexão sobre o tempo das coisas e de tudo o resto. Nem todos avançamos ao mesmo tempo ou com o mesmo ritmo; muitos não têm tempo para matar ou tempo a perder; quase ninguém tem tempo para esperar, seja por uma nova oportunidade, seja pelos outros ou por si próprio; e muitos se recusam a ter tempo para respirar, pensar ou refletir para fazer parte do momento.
Tal como o tempo está sempre a contar, o espaço por onde nos passamos também está sempre em movimento. Não existe um lugar fixo (no tempo e no espaço) onde possamos realmente fazer parte do momento e refletir sobre tudo ou simplesmente respirar. Talvez o objetivo seja mesmo esse: uma dissociação do momento real, a produção do olhar iludido e da falsa consciência. Afinal de contas, tudo está bem quando não perdemos tempo para pensar nisso. Quando finalmente conseguirmos ter tempo para refletir talvez já seja tarde demais. Este trabalho pretende funcionar como o espaço de reflexão descrito: ao tomarmos a atitude de esperar talvez a vida não nos passe à frente. Talvez consigamos respirar, pensar e refletir. Para podermos andar ao mesmo ritmo que o tempo. Ou talvez percamos na mesma tudo o que nosso tempo tem para nos oferecer.
A solução final consiste numa instalação vídeo, onde quatro televisões estão  fixas na mesma parede à altura do olhar do espetador. Os vídeos estão desenhados para serem reproduzidos em loop, sendo que cada televisão irá reproduzir um loop diferente. Uma televisão irá sempre tocar o mesmo vídeo, existindo quatro vídeos diferentes. Cada vídeo parte da mesma imagem-fixa, e terá os mesmos acontecimentos a decorrer por cima desta imagem. No entanto, estes terão uma ordem diferente de ecrã para ecrã, repetem-se figuras, movimentos, entradas em cena, tudo com o objetivo de criar uma falsa repetição, criando quatro representações da realidade, numa tentativa de tentar colocar o espetador numa posição de questionamento perante o que vê: qual será, afinal, a representação verdadeira? Qual das imagens em movimento é a original?
o tempo perguntou ao tempo...
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'It's waiting for time to pass that everything that's significant or important happens. Time passes by us and takes with it all these events and Read More

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