4º PRÊMIO {CURA} | Museu da Democracia

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O local escolhido para a realização do projeto é uma área onde, supostamente, existia uma instalação clandestina do DOI-CODI de Curitiba. A escolha do sítio se dá no fito de agregar ao lugar uma dimensão cuja poética se assuma através de um caráter histórico, mesclando arquitetura com o imaginário. Não se sabe ao certo o local exato onde fora essa instalação, sabe-se que se situava entre as ruas Dr. Pedrosa e Brigadeiro Franco, no centro da cidade, e imagina-se, que estava organizada em um porão das dependências do que deveria ser o DRMS (Departamento Regional de Material de Saúde.  

Se assume então uma premissa de se relacionar a ditadura militar e o seus porões de tortura com a democracia e o antagonismo proveniente desses elementos, de modo que o contraste formal (peso e leveza; luz e sombra)se faz protagonista no que tange a percepção do espaço. Dentro desse aspecto os elementos formais,  assumem papéis de representação simbólica, como a água que representa a vida e o monumento massivo que surge emergindo do profundo e envolve essa mesma água em sua solidez.​​​​​​​
                 

Desse modo, primeiramente, se enterra todo o programa do projeto. A utilização do subsolo, se dá no âmbito de se estabelecer uma relação com os porões da ditadura. Essa relação, entre o porão e o subsolo, não se dá em uma esfera literal, mas sim, do entendimento de que a memória deve ser resgatada por estímulos sensoriais que configurem uma atmosfera de tensão e confinamento. A memória portanto não é estática, não é a imagem que se vê ou a história que se ouve, senão a própria sensação do espaço onde se está.  

O emprego do concreto e o jogo de luzes e sombras, alcançado através de aberturas e rasgos nas lajes e paredes, se faz presente em todo o conjunto, buscando remeter a ideia de contraste.  O lançamento do programa para o subsolo faz nascer uma grande praça no térreo, onde, dentro das premissas conceituais estipuladas, a democracia se faz exercer, superficialmente, sobre um outro cenário submerso.  ​​
                 

O acesso se dá pelo subsolo, incorporando ao espaço, um caráter de uma atmosfera opressiva, entendendo a experiência como parte da memória que se busca resgatar. Assim, como os porões da ditadura, a área destinada à exposição permanente, se dá em um percurso, onde, o observador, se queda imerso em uma sensação de confinamento, ao passo em que observa e assimila o material da Comissão Nacional da Verdade. No final do percurso, o observador tem acesso a uma abertura que leva ao memorial dos mortos e desaparecidos. O espaço consiste, basicamente, em uma laje sobre um espelho d’água, envolvido pelo conjunto de blocos.   ​​​​​​​​​​​​​​
                 

O elemento final contrasta com o peso do percurso pela sua leveza. O contraste se atribui de maneira a ressaltar a memória de resistência em detrimento da memória da dor, uma memória de luta em detrimento da penitência. Se procura enaltecer, através da leveza, a força das pessoas que perderam as vidas, e, enaltecer também, o entendimento de que o ideal da democracia, ainda que envolto por trevas, prevalecerá. O caminho no fim dos porões da ditadura flutua sobre a água. O fim do caminho é a luz total.


“A utopia está lá no horizonte. Me aproximo dois passos, ela se afasta dois passos. Caminho dez passos e o horizonte corre dez passos. Por mais que eu caminhe, jamais alcançarei. Para que serve a utopia? Serve para isso: para que eu não deixe de caminhar.”  

Fernando Birri, citado por Eduardo Galeano
  
                 
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